Anuário das Testemunhas de Jeová
Zimbabwe (continuação)
[Seriado com base no Yearbook de 1985.]
Organização Para o Trabalho à Frente
Até então o trabalho neste país era supervisionado pela filial na África do Sul. Mas, em 1948, ocorreu uma mudança que teve efeitos de longo alcance. O janeiro daquele ano testemunhou a chegada de nosso primeiro formado da Escola de Gileade, mencionado no Anuário como nosso “presente de Gileade”. Tratava-se de Eric Cooke. Pouco depois de sua chegada, vieram também dois visitantes, os irmãos N. H. Knorr e M. G. Henschel. A visita deles resultou em outro grande passo adiante no sentido de melhorar a liderança e a organização das congregações. Este foi o estabelecimento da filial, em 1.º de setembro de 1948, com Eric Cooke qual superintendente da filial.
Estava claro que o campo precisava de supervisão mais de perto. Nessa época o número dos publicadores ultrapassava os 3.500, e estes serviam em 117 congregações. Assim, em 1948, estas congregações foram agrupadas em cinco circuitos. Pode imaginar o trabalho que nossos superintendentes de circuito tinham de fazer — cinco deles num país de cerca de 390 mil quilômetros quadrados. Embora algumas de suas viagens fossem feitas de ônibus ou de trem, a maioria delas era de bicicleta. Mas foi um começo.
Ajuda Adicional de Gileade
Deve lembrar-se de que, o tempo todo, o trabalho era dificultado pelo fato de os irmãos europeus não poderem trabalhar nas áreas africanas. Com efeito, irmãos brancos não podiam entrar no que então eram chamadas Reservas Nativas, nem mesmo para fins de supervisão. Foi sob tais circunstâncias que quatro formados de Gileade, da décima classe, surgiram no cenário, em fevereiro de 1949. Eram George e Ruby Bradley, Myrtle Taylor e Phyllis Kite. Eric Cooke e Myrtle Taylor mais tarde se casaram e servem agora como missionários na África do Sul.
Embora os quatro novos missionários recebessem permissão para ficar no país, era apenas em base experimental. Por quê? Porque, segundo o Diretor-chefe da Imigração, as Testemunhas de Jeová ainda estavam “sob suspeita”. Mas, depois de vários meses de trabalho junto aos brancos em Bulavaio, Eric Cooke foi convocado ao escritório de imigração e foi-lhe dito que o período de experiência havia terminado. Foi concedido permanência a todos os quatro, uma vitória que havia de abrir o caminho para outros formados de Gileade virem para o país nos anos à frente!
Seguem-se Aumentos
Embora esta vitória não removesse as restrições aos brancos nas áreas reservadas para os africanos, concorreu muito para estabelecer mais firmemente a obra do Reino em regiões de língua inglesa. Por exemplo, em Bulavaio, onde inicialmente funcionavam a filial e o lar missionário, a congregação inglesa aumentou 54 por cento em publicadores, em 1949.
Dessa congregação surgiu um de nossos primeiros pioneiros a ir para a Escola de Gileade, Doreen Kilgour. Ela formou-se em 1956, e, depois de alguns anos aqui em Zimbabwe, foi transferida para a África do Sul, onde realizou o serviço de missionária até fevereiro de 1983. Nessa época regressou para cá a fim de cuidar de sua mãe idosa. Ela continua a dar um bom exemplo como pioneira especial.
Durante este período, o aumento ocorria rapidamente. Nos três anos de 1948 a 1951, o auge de publicadores subiu de 4.232 para 9.088; as congregações de 117 para 191 e os circuitos de cinco para sete. O ano de serviço de 1951 desfrutou um aumento de 37 por cento na média no número de publicadores.
Ajuda Inesperada
Detenhamo-nos por um momento nos sentimentos que muitos haviam desenvolvido contra as Testemunhas de Jeová — o de incerteza quanto aos motivos delas. Ilustrando isso temos a experiência de George Bradley, em Salisbury, no mês de junho de 1950, depois de a filial e o lar missionário serem mudados para a capital.
Durante o trabalho nas ruas, o irmão Bradley foi abordado por um senhor bem trajado que parecia um pouco chocado ao ver A Sentinela e Despertai! exibidas tão abertamente. Ele perguntou: “Isso não é comunista?” Sendo-lhe assegurado que não era, disse: “Bem, sou Dendy-Young, membro do Parlamento, e devo dizer que estou completamente alheio de sua obra.” Ele aceitou duas revistas e pediu-nos para visitá-lo no seu escritório no dia seguinte.
Nessa visita, o Sr. Dendy-Young declarou que as revistas eram completamente inofensivas e solicitou uma carta expondo claramente os motivos e objetivos de nossa obra. Por que este pedido? Porque o Parlamento estava para debater o Projeto de Lei Contra Atividades Subversivas, e o Sr. Dendy-Young tinha a impressão de que as Testemunhas de Jeová seriam consideradas em conexão com isso. Desejava ler ao Parlamento uma carta que fornecesse os fatos. Fiel à sua palavra, a carta inteira foi lida.
Embora o Projeto de Lei se tornasse decreto-lei, jamais foi aplicado à obra das Testemunhas de Jeová.
Problemas de Importação
Uma grande batalha no começo da década de 50 envolvia a importação de literatura bíblica para o país. Desde que se estabeleceu um depósito em 1947, guias de importação foram concedidas anualmente à base duma consignação limitada de dólares americanos. Assim, quando fizemos um requerimento no início de 1950, esperávamos a mesma coisa. De modo bastante surpreendente, nosso pedido foi indeferido. Quando a filial fez o requerimento à base dum arranjo de doação, mesmo assim foi recusado. Que havíamos de fazer?
A única coisa a fazer era continuar requerendo, na esperança de que as autoridades abrandassem e nos deixassem importar publicações. Por fim, em agosto de 1951, concordou-se que poderíamos importar publicações num arranjo de doação. Isto significava que nenhuma moeda estrangeira sairia do país, e assim não afetaria os recursos externos do governo.
A primeira autorização concedida sob tal arranjo foi no valor de 11.200 dólares. Pensamos que isso fosse um engano. De modo que decidimos tirar partido disso com o receio de não obtermos outra autorização. Com isto em mente, fizemos o pedido no valor total concedido, que incluía 32.000 exemplares do livro Que Tem Feito a Religião Pela Humanidade? Sentimo-nos felizes de que este livro provou ser uma excelente ajuda no estudo da Bíblia porque continuamos a oferecer exemplares desse pedido original até 1975 — 24 anos mais tarde!
Melhor Organização Para Suprir as Necessidades
Os anos que se seguiram à formação da filial, em 1948, mostraram-se anos de crescimento muito rápido. Os algarismos podem ser secos. Mas, às vezes, contam uma história. Por exemplo, em 1949, tivemos cinco assembléias de circuito com uma assistência total de 7.415, sendo 647 batizados. Nos três anos seguintes, 5.186 foram batizados em símbolo de sua dedicação a Jeová. Isso foi 1.587 a mais do que o número médio de publicadores em todo o país no ano em que a filial foi formada.
Daí, algo mais aconteceu. Em dezembro de 1952, tivemos outra visita dos irmãos Knorr e Henschel. Desta vez, numa assembléia realizada ao ar livre em plena estação de chuvas fortes, nossos visitantes falaram a uma assistência de 15.000, tantos quanto o dobro do que tivemos em 1949.
Tudo isso significava que se requeria melhor organização. Portanto, durante esta visita, comprou-se uma casa bem no centro da capital. Haveria de servir como lar missionário e também como local da filial pelos próximos 20 anos.
O Serviço de Distrito Traz Benefícios
Até 1953, a filial cuidava do serviço de superintendente de distrito. Mas, então, tornou-se claro que era necessário um superintendente de distrito permanente. Em primeiro lugar, o número dos circuitos havia aumentado para 13. Assim, desse tempo em diante, havia superintendentes de distrito permanentes designados, que, nos vários anos seguintes, eram principalmente formados de Gileade.
Embora os superintendentes de distrito fossem ainda barrados em certas áreas, seu trabalho trouxe realmente benefícios. Por exemplo, ajudou muitos fazendeiros e mineiros a ficarem livres das impressões erradas concernentes à nossa obra.
Um exemplo disso foi quando se programou uma assembléia de circuito em Mberengwa, pequeno povoado numa grande área européia de mineração e agricultura, na parte sul do país. Enquanto prosseguiam os preparativos para a assembléia, Ruby Bradley estava trabalhando no campo e visitou um cavalheiro aposentado que morava numa mina. Este homem mostrava considerável preconceito contra nossa atividade. Estava profundamente preocupado com o efeito que ela teria sobre o povo africano.
Depois de ele se desabafar, a irmã Bradley perguntou-lhe: “Poderia ao menos conceder-me a oportunidade de explicar de que se trata a nossa obra?” Ele concordou com isso. De modo que, nos próximos poucos minutos, ela explicou a natureza e o objetivo da obra do Reino. Disse-lhe também o que alguns administradores de grandes companhias de mineração (um dos quais ele conhecia) disseram sobre a honestidade e confiabilidade das Testemunhas africanas. O senhor ficou muito impressionado com o que ouviu — tanto que obteve quatro livros e fez assinatura tanto de A Sentinela como de Despertai!.
Essa visita mostrou-se bastante proveitosa. A oposição à nossa assembléia era forte, e sabíamos que se fariam esforços para parar com ela. Este senhor honesto assumiu a responsabilidade de corrigir os conceitos errôneos. Foi para o hotel do povoado local, onde muitas pessoas estavam reunidas, e contou-lhes o que aprendera. Nós não tivemos mais problemas naquela área em conexão com assembléias.
O interesse desenvolvido na mensagem do Reino nessas áreas afastadas naquela época era notável. Amiúde o superintendente de distrito e sua esposa acabavam com as publicações, de modo que recorriam à oferta de assinaturas.
Outro benefício que o serviço de distrito trouxe foi a exibição de filmes da Sociedade, começando com A Sociedade do Novo Mundo em Ação, em 1954. A primeira exibição foi numa assembléia de circuito. O número total de publicadores no circuito era de cerca de 700, mas a assistência atingiu 3.378. Quão emocionante era isso! Outros filmes exibidos desde aquela época continuaram a atrair grandes multidões, muitas pessoas das quais expressaram surpresa com o alcance mundial da organização de Jeová.
[Continua na próxima edição.]