Sulista negro acha solução
Fui criado no Sul, em fins da década de 40. Minha família era paupérrima, como a maioria das famílias de cor. Papai era um trabalhador do campo. Nunca me ensinaram que os negros fossem inferiores aos brancos, embora fosse bem evidente que os brancos detinham tal conceito.
Meus pais me explicaram, e também aprendemos em nossa escola segregada, que os negros sofriam opressão desde que vieram como escravos para os Estados Unidos. Disseram que, muito embora fôssemos supostamente livres e iguais, tudo era feito para manter-nos como cidadãos de segunda classe, inferiores aos brancos. Papai me disse que, quando garoto, nem ousava olhar nos olhos de um branco, enquanto falava com ele. Disse que sua cabeça tinha de ficar curvada um pouco, e tinha de responder “Sim, Sr.” ou “Não, Sr.”, com medo de represália. Até mesmo chegou a contar-me de ter ido à cidade e um branco ter atirado junto a seus pés, bradando: “Dance, negrão!”
Assim, estava preparado para sofrer maus tratos e discriminação. Mesmo assim, isso doía. Éramos obrigados a viajar na parte de trás dos ônibus, e, não raro, ir à porta dos fundos ou a uma janela dum restaurante para ser servidos. E, nos lugares públicos, havia banheiros com letreiros de “brancos” e “pretos”, o de pretos, naturalmente, sendo de qualidade inferior. Certo dia, em meados dos anos 60, fui a uma cavalariça e me foi dito: “Há um dia certo para vocês.” Havia bastante cavalos, mas não podíamos cavalgar junto com brancos.
Especialmente frustrador para mim era o ciclo econômico vicioso em que os negros eram mantidos pelos brancos. No passado, devido à escravidão e segregação forçada, os negros sofriam limitações quanto à educação, e oportunidades de emprego, e, assim, não podiam melhorar sua condição econômica ou sua vida familiar. Até em tempos recentes, em virtude da falta de instrução ou discriminação, um pai negro amiúde não conseguia sustentar adequadamente sua família, quer materialmente quer em sentido educacional.
Na época em que comecei a freqüentar a escola, muitos negros tinham chegado à conclusão de que o único meio de se aprimorarem era obtendo uma boa educação. Lembro-me de meus mestres sublinharem isto, afirmando: ‘Estude, eduque-se bem, de modo a não ter de trabalhar nos campos depois de terminar seu curso de 2.º grau.’ Não era o trabalho árduo que era objetável. Não, mas era trabalhar de sol a sol por mísero salário, acabando sem se ter nada para mostrar por ele.
Era o sistema que desanimava a muitos negros. Alguns, que se tornaram frustrados por não conseguirem empregos, voltaram-se para o álcool, os tóxicos e o crime, para dar vazão às suas frustrações. Isto somente apoiava os argumentos dos brancos de que as pessoas de cor são indolentes e preguiçosas. Geraram em mim profundo senso de ressentimento contra a perpetuação do sistema econômico injusto e cruel.
Comecei a imaginar: Será que a boa instrução realmente me livrará dessas injustiças? Mudará as atitudes básicas dos brancos para comigo? Tais indagações me causavam muita consternação. No entanto, envolver-me num estudo da Bíblia com as Testemunhas de Jeová ajudou-me a ver a verdadeira razão das injustiças raciais, tão prevalecentes. Também aprendi que a oração que me ensinaram quando criança oferece a única esperança duradoura de alívio — o reino de Deus. — Mat. 6:9, 10.
Dos meus estudos bíblicos pude depreender que todos os homens são imperfeitos e nem sempre tratam outros do modo como deviam. Como diz a Bíblia: “Homem tem dominado homem para seu prejuízo.” (Ecl. 8:9) No entanto, a associação com as Testemunhas de Jeová ajudou-me a ver que elas têm o mesmo conceito sobre raça que a Bíblia delineia. Realmente crêem que Deus “fez de um só homem toda nação dos homens, para morarem sobre a superfície inteira da terra”. (Atos 17:26) Deveras, as Testemunhas demonstram o amor que Jesus disse seus verdadeiros seguidores teriam. — João 13:34, 35.
As Testemunhas, segundo verifiquei, praticam esse amor entre si, qualquer que seja sua raça. Na verdade, como se dá com outros criados neste sistema, talvez outros tenham inculcado nelas o ódio e o ressentimento raciais. Mas, segundo observei, tanto comigo mesmo como com outros, quando a pessoa aceita o conceito de Deus sobre as diferenças raciais e se empenha em familiarizar-se de perto com pessoas de diferentes raças, dissolvem-se os mitos, há muito existentes, baseados em preconceitos.
Sou grato por ter aprendido as verdades bíblicas, que ajudam a mim e à minha família a ficar livres de tais problemas raciais. Sentimo-nos felizes de nos manter ocupados em ajudar outros, de todas as raças, a ver que o reino de Deus é a verdadeira solução para todos os problemas do homem.
Solução Disponível a Todos
Estas histórias não são raras, ou incomuns. Milhões aprenderam a ter preconceitos desde sua juventude; outros milhões têm sido vítimas do preconceito e, em resultado, têm sofrido injusta discriminação racial. Todavia, felizmente, a Palavra de Deus tem a solução — fornece o conceito de nosso Criador sobre a humanidade, e como devemos tratar uns aos outros.
Primeiro, como vimos, a Bíblia ensina que somos todos uma só família humana. Sim, à vista de Deus, os humanos de toda raça ou nacionalidade são iguais, em todos os sentidos. (Atos 10:34, 35) Este é também o conceito que Jesus Cristo expressou.
A principal ordem de Cristo para seus seguidores foi a de ‘amarem uns aos outros’, assim como ele os amou. (João 13:34, 35) Este amor entre eles não devia ser algo exclusivo — apenas aos membros de determinada raça ou raças. De jeito nenhum! “Tende amor à associação inteira dos irmãos”, instou um dos apóstolos de Cristo. E outro disse: “Quem não ama o seu irmão, a quem tem visto, não pode estar amando a Deus, a quem não tem visto.” — 1 Ped. 2:17; 1 João 4:20.
Como é demonstrado este amor cristão? A Palavra de Deus explica como, ao instar: “Tomai a dianteira em dar honra uns aos outros.” (Rom. 12:10) Pense no que significará isto, ao praticá-lo. Tratará os outros, sem considerar sua raça ou nacionalidade, com verdadeira dignidade e respeito, considerando-os “superiores a vós”. (Fil. 2:3) Quando existe tal espírito de genuíno amor cristão, equaciona-se o problema do preconceito racial.
‘Isto é algo que jamais acontecerá’, talvez objetem alguns. Todavia, já aconteceu entre as Testemunhas de Jeová — numa organização de mais de dois milhões de pessoas! Não se quer dizer com isso que cada uma das Testemunhas de Jeová se tornou perfeitamente livre dos preconceitos cultivados por este sistema ímpio. Não, mas elas, num grau inigualado por qualquer outro povo na terra, solucionaram este problema racial. E isto se torna patente para qualquer pessoa que investigue o assunto.
À guisa de exemplo, o escritor católico, William J. Whalen, observou em U. S. Catholic, de julho de 1964: “Creio que uma das caraterísticas mais atraentes deste culto tem sido a sua diretriz tradicional sobre a igualdade racial. Os negros que se tornam Testemunhas de Jeová sabem que serão bem acolhidos como plenos seres humanos.”
Também, G. Norman Eddy, depois de um estudo intensivo das Testemunhas de Jeová, escreveu na publicação religiosa, Journal of Bible and Religion (Revista da Bíblia e da Religião): “Penetrando mais a fundo em seus valores sociais, fico impressionado com a sua genuína consideração elevada para com as pessoas de todas as raças. Dessemelhantes de alguns que adotam a doutrina da fraternidade racial apenas da boca para fora, as Testemunhas acolhem a todos na sua sociedade — até mesmo em cargos de destacada liderança — sem referência à cor ou à feição.”
É alguém que anseia a verdadeira fraternidade, ver pessoas de todas as raças vivendo juntas em paz? Animamo-lo, então, a freqüentar, na sua localidade, um Salão do Reino, onde as Testemunhas de Jeová reúnem-se regularmente para estudar a Palavra de Deus. Veja por si mesmo se elas não demonstram genuíno amor cristão — a pessoas de todas as raças.
[Destaque na página 27]
“Os negros que se tornam Testemunhas de Jeová sabem que serão bem acolhidos como plenos seres humanos.”