Zâmbia
ZÂMBIA — mais de 750.000 quilômetros quadrados de planícies na maior parte onduladas em cima dum platô de 900 a 1.200 metros acima do nível do mar — acha-se no coração da África a apenas nove graus ao sul do equador. É o terceiro maior país produtor de cobre do mundo. Sua população de 4.500.000 representa cerca de setenta e três divisões tribais, falando trinta dialetos diferentes. Embora ilhada, Zâmbia (anteriormente conhecida como Rodésia do Norte) possui muitos pescadores, que exercem sua profissão nos três grandes lagos, Bangweulu, Mweru e Tanganyika.
A partir do início do século dezenove, Zâmbia sofreu a penetração primeiro dos exploradores e dos missionários das seitas da cristandade, e, então, de mineradores que buscavam as riquezas minerais, e, por fim, pela ferrovia, por perfuratrizes e todo o outro equipamento de extração do cobre que jaz no subsolo. Tais acontecimentos iriam trazer profundas mudanças para a população primitiva e grandemente analfabeta.
A luz progressiva sobre o entendimento das profecias e das doutrinas da Bíblia começou a penetrar neste país já em 1911, quando exemplares das publicações da Sociedade Torre de Vigia, chamadas de “Estudos das Escrituras”, entraram de territórios vizinhos. Isto abriu o caminho para alguns dos destinatários destas publicações se comunicarem com a filial da Sociedade na Cidade do Cabo, África do Sul. Um deles era K. M. Mwanza, que ainda vive na ocasião em que isto é escrito, e, com oitenta e cinco anos, serve como ministro de tempo integral em seu distrito natal de Isoka, no noroeste de Zâmbia.
Naqueles primeiros anos, a ânsia de muitos de manter seu interesse na Bíblia por meio de extensas palestras levou alguns a negligenciar suas atividades domésticas e agrícolas e a viajar longas distâncias a pé até onde se realizavam algumas palestras bíblicas. Os pastos das missões católico-romana e protestante também sofreram efeitos adversos. Assim, o irmão Mwanza fala de se enviarem soldados pelo Administrador local inglês e pelos Chefes nativos para juntar os líderes de tais assembléias. Em mais de uma ocasião, ele próprio sofreu encarceramento e açoites, bem como o confisco de sua Bíblia e de publicações bíblicas.
Mas, a disseminação da verdade bíblica não podia ser facilmente impedida. Um senhor chamado Saimoni, possuidor de uma Bíblia Bereana (publicada pela Sociedade Torre de Vigia dos EUA, tendo um comentário de versículo por versículo) obteve emprego temporário numa loja em Broken Hill. Ali testemunhou a seu colega de trabalho, Harrison Nyendwa, membro da Igreja Livre. Por fim, Harrison deixou seu emprego secular e viajou de Broken Hill através do distrito de Mkushi até Serenje, pregando aos aldeões e usando apenas a Bíblia e o que ele aprendera em Broken Hill. Esta jornada a pé levou três semanas, e muitos ficaram interessados através de seus esforços.
Bem, este Harrison Nyendwa Mailo é filho do Chefe Mailo, um dos chefes mais antigos do distrito de Serenje. Próxima se acha Livingstonia, e toda a área é considerada como “reserva” da Igreja da Escócia. Quando as seitas da cristandade começaram a enviar suas missões à África, criaram limites ‘entendidos’ para cada denominação, e tais territórios eram ciumentamente guardados contra a infiltração de outras seitas. Assim, Harrison estava ‘invadindo de forma sacrílega’ uma de tais reservas quando começou a disseminar sua nova fé entre os aldeões. Foi preso e levado perante o Comissário Distrital em Serenje, onde foi repreendido, espancado e então liberto. Em outra ocasião, foi sentenciado a dezoito meses de prisão. Assim, até mesmo na ‘África Obscura’ a Igreja e o Estado já combinavam seus esforços em oposição à mensagem do reino de Deus.
Em 1924, um representante da Sociedade, da filial inglesa, veio para as Rodésia investigar acusações estranhas lançadas contra alguns que professavam associar-se com a Sociedade. Descobriu realmente que alguns afirmavam estar associados com a Sociedade sem terem qualquer entendimento das verdades bíblicas ensinadas pela Sociedade, e alguns destes praticavam o adultério, a troca de esposas e outros males. Descobriu que outros eram sinceros em sua devoção aos princípios bíblicos. Foi enviado certo irmão Dawson, em 1925, para supervisionar os grupos interessados na Rodésia do Norte. Em resultado de tais visitas, foram paralisados a obra de pregação e o batismo até o tempo em que se pudesse prover adequada supervisão das atividades. No ínterim, foram feitas repetidas solicitações ao governo para se ter permissão de um ministro europeu residir no país, numa base permanente. A resposta era desfavorável.
Nos anos 1925 e 1926, foram feitos esforços por parte dos que se opunham à obra do Reino de ligar a Sociedade Torre de Vigia com o fanatismo religioso de Tomosiyo Mwana Lesa (significando, “Eu Tomé, Filho de Deus”), que foi amplamente noticiado por seus batismos assassinos no distrito de Mkushi. Visto que o batismo em água desempenhava parte destacada nos serviços de alguns daqueles grupos primitivos não identificados, foi fácil demais confundir as mentes de muitos sobre o assunto. Sabe-se bem que a imersão total praticada pelas testemunhas de Jeová não é senão o prelúdio de uma vida de devoção ao serviço de Jeová Deus.
A indústria de mineração do Cinturão de Cobre ajuntou ampla população em povoados e cidades, tirando sua força operária da simplicidade primitiva da vida tribal. Este acontecimento também serviria para ajudar no entesouramento rápido das outras ‘coisas preciosas’ à vista de Jeová, pessoas que têm fé em Deus e amor genuíno à justiça. Dois exemplos iniciais de êxito nesta direção podem ser citados: Havia o jovem James Luka Mwango, que entrou em contato com as publicações da Sociedade quando em férias escolares. Foi-lhe pedido que traduzisse um dos folhetos da Sociedade para o cibemba, e ele ficou tão absorto no cometido que por fim abandonou seu trabalho como professor. Associou-se com o povo de Jeová e entrou no serviço de pioneiro, e agora se acha na filial de Zâmbia, depois de usufruir muitos outros privilégios no campo.
O outro caso se relaciona a Thomson Kangale. Em 1931, entrou em contato com um jovem jogador de futebol que mostrou profundo interesse nas publicações da Sociedade. Estimulado pela determinação deste rapaz de conhecer algo sobre a Bíblia, Thomson assistiu ás reuniões, entrou no ministério de tempo integral em outubro de 1937 e continuou nele até o tempo atual, quando serve como um dos representantes viajantes da Sociedade.
CONSPIRAÇÃO CONTRA A OBRA DO REINO
Em princípio de maio de 1935, uma assembléia de três dias foi realizada às margens dum rio no vale de Ngwerere. Manasse Nkhoma, enviado pela filial da Sociedade na Cidade do Cabo, era o presidente. Os presentes, inclusive o irmão Mwanza, Thomson Kangale e Harrison Nyendwa, lembram-se de que era uma ocasião de real encorajamento. A questão de registrar os casamentos, em obediência à lei, foi considerada e recomendada como o proceder correto para os cristãos. Métodos aprimorados de pregação também foram abrangidos pelo programa.
Nesse mesmo mês, o Legislativo promulgou a Lei 10 de 1935, lei que permitiria impedir-se a entrada de quaisquer publicações no país, e só se precisava de algum incidente para fornecer o motivo para invocar tais poderes. O ‘incidente’ foi suprido três semanas mais tarde quando os mineiros do Cinturão de Cobre se amotinaram devido ao anúncio mal feito de um novo imposto. Nas refregas que se seguiram em Mufulira, Kitwe e Luanshya, seis africanos foram mortos e vinte e dois ficaram feridos por balas de fuzis. Durante essa dificuldade, os irmãos permaneceram discretamente dentro de suas casas, empenharam-se em estudar e praticaram entoar novos cânticos. Os inimigos religiosos pronta mente apontaram o dedo para a recente assembléia em Lusaka como o solo onde germinou a violência. Seguiram-se prisões dos irmãos. O povo de Jeová se tornaria o bode expiatório e as soltas da cristandade se livrariam de pregadores aflitivos que suscitavam interesse demais no estudo da Bíblia e assim devastavam seus pastos.
Uma Comissão de Inquérito foi subseqüentemente nomeada e apresentou suas descobertas em novembro de 1935. Nem sequer uma das testemunhas de Jeová ou qualquer representante da Sociedade Torre de Vigia estava de qualquer forma implicado nas perturbações. Antes, já em 1924, numa conferência missionária das soltas da cristandade, havia sido engendrada uma conspiração para impedir a circulação das publicações da Torre de Vigia. Um dos “reverendos” naquela conferência levantou a acusação de que o conteúdo das publicações da Torre de Vigia era “propaganda que vinha da Rússia para a África”. No ínterim, contudo, à base da Lei 10 de 1955, o governador lançou uma Proclamação, proscrevendo vinte das publicações da Sociedade.
Fizeram-se petições ao Secretário do Estado Para as Colônias, em Londres, Inglaterra. Essa autoridade estabeleceu investigações quanto à nossa condição e nossas atividades em outras Dependências da África, e, sem dúvida, como resultado das mesmas, comunicou sua decisão à Rodésia do Norte. A filial na Cidade do Cabo recebeu informações do Primeiro-Secretário, da Rodésia do Norte, com data de 19 de março de 1936, concordando com nossa proposta de abrir um escritório em Lusaka e admitir um representante europeu da Sociedade na Rodésia do Norte.
Foi então estabelecido um depósito de publicações em Lusaka e o irmão L. V. Phillips, da Cidade do Cabo, foi designado como servo do depósito. A propriedade que ele conseguiu alugar se situava bem em frente à delegacia. Foi feito de imediato o pedido de registro da Sociedade como “denominação religiosa reconhecida”, mas o Governador achou que era preciso haver uma organização efetiva no país para assegurar o controle efetivo de seus membros antes de poder recomendar tal medida.
No ínterim, o servo do depósito se viu confrontado com a tarefa de separar os elementos indesejáveis que se haviam infiltrado em algumas congregações. Verificou que alguns ensinavam e praticavam a ‘troca de esposas’, ou esposas comunitárias. Seus esforços de restaurar a pureza em algumas congregações de Mufulira significava desassociar tantas quantas 140 pessoas. Apesar das dificuldades, o primeiro relatório do ano de serviço depois do estabelecimento do depósito mostrava que 758 publicadores estavam ativos na disseminação das “boas-novas”.
Em 1937, James Mwango foi empregado pela Firma Rhokana e se associava com a congregação de Kitwe. Lembra-se da introdução da organização teocrática ali, quando o irmão Jeremiah Chisansesanse foi diretamente designado pela Sociedade como servo de companhia, como os superintendentes eram então conhecidos. James teve de esperar até 1940 antes de ser batizado, visto que não foi senão então que foram revogadas as restrições impostas pelos irmãos Dawson e Walder em 1925. Ele e outros candidatos deveriam então demonstrar o grau de conhecimento que tinham adquirido por responderem a perguntas sobre sua fé, sua dedicação e outros assuntos.
Com a entrada da Grã-Bretanha na guerra, em 1939, prevaleceram as condições de emergência, e, por causa da posição neutra assumida pelos irmãos, o governo da Rodésia do Norte lançou uma proclamação proibindo a importação e a distribuição de todas as publicações da Sociedade. Em 1941, seguiu-se um aviso do governo convocando todas as pessoas a entregar quaisquer publicações da Torre de Vigia em seu poder dentro de dois meses, e deixar de fazer isso significaria um processo contra elas. Foi atacado o depósito de Lusaka e o irmão Phillips foi sentenciado a seis meses de prisão.
Um incidente que envolvia os irmãos, ocorrido em 1940, mostra o bom efeito que a verdade tinha sobre eles. Os mineiros da Mina Nkana, da Firma Rhokana, entraram em greve, mas os irmãos empregados na mina continuaram a apresentar-se para o trabalho, visto que se chamara os soldados para impedir os piquetes. Os patrões começaram a compreender que as testemunhas de Jeová eram, com efeito, um elemento estabilizador na população. Isto muito contribuiu para remover o estigma que as Testemunhas levavam injustamente desde os motins de 1935.
Logo houve grande escassez de publicações, muito embora os irmãos tivessem conseguido ocultar grande parte de seus suprimentos para uso em seu ministério de campo. Por fim, alguns capítulos das publicações da Sociedade foram preparados em folhas simples por meio de um mimeógrafo manual no depósito de Lusaka. Os representantes viajantes, que visitavam as congregações, tinham de confiar em seu conhecimento pessoal das Escrituras e das publicações da Sociedade. Trabalhavam no ministério de campo durante o dia, com vários publicadores, ao passo que às noites eram organizadas palestras de perguntas e respostas à luz de uma fogueira. Todos os publicadores associados com uma congregação vinham e permaneciam no povoado onde o irmão visitante realizava suas reuniões.
Esses foram anos de grandes dificuldades para o progresso da obra do Reino. Em 1942, o servo do depósito foi preso novamente, desta vez por recusar o serviço militar. Durante oito dos doze meses, ficou atrás das grades. Mas, um irmão africano trabalhava para manter funcionando o depósito. Quando o irmão Phillips ficou livre de novo, fez tudo que pôde para manter a organização em boa ordem de trabalho. À medida que irmãos capazes ofereciam seus serviços, ele lhes dava algum treino e os enviava para manter o contato com as congregações. Apesar de todas as restrições, em 1943 havia, em média, 2.784 Testemunhas que pregavam na Rodésia do Norte.
O irmão James Mwango, representante viajante, menciona ter coberto até mais de 1.100 quilômetros de bicicleta. Nove “servos aos irmãos” (agora superintendentes de circuito) viajaram mais de 12.800 quilômetros visitando 140 congregações no ano de serviço de 1944, e isto principalmente de bicicleta ou a pé. A filial da África do Sul enviou o irmão C. Holliday a ajudar neste serviço em 1945. Ele viajou extensivamente na Província de Barotse bem como no Cinturão de Cobre. Alguns dos chefes nativos recusaram-se a permitir reuniões de estudos bíblicos. A comunicação entre o depósito e as congregações ou servos de circuito era principalmente por meio de “mensageiros” nativos, um sistema que o irmão Mwango considerava mais eficaz do que o correio do governo.
Em princípio de 1947, um membro da filial inglesa fez uma visita pessoal ao Escritório das Colônias Inglesas em Londres. Isto foi apoiado por uma petição feita ao governo da Rodésia do Norte, assinada por 40.909 pessoas, deplorando a proscrição de uma atividade educativa cristã. A única resposta foi o término da proscrição quanto a alguns itens dentre as publicações. Mas, A Sentinela ainda não estava livre para circular, de modo que ainda se tinham de fazer esforços para continuar obtendo o necessário alimento espiritual para a ‘família da fé’. A necessidade era maior do que nunca, pois 1947 terminou com 6.114 publicadores ativos em 252 congregações.
CHEGAM OS GRADUADOS DE GILEADE
Não foi senão depois da chegada dos graduados da Escola de Gileade que começamos a dar atenção aos 25.000 europeus que vieram para Zâmbia relacionados à mineração. Isso se deu em 1948, quando o missionário Harry Arnott foi designado a Luanshya e Ian Fergusson a Chingola. A pregação intensiva de casa em casa logo começou a ser feita e a resposta foi estimulante. As publicações saíam rápido e se desenvolviam rapidamente estudos bíblicos domiciliares, usando-se o livro “Seja Deus Verdadeiro”. Dentro de um ano, duas congregações de língua inglesa foram formadas nestas cidades.
O ano de 1948 foi grandioso em vários sentidos. Fenomenal aumento de 61 por cento elevou o total de ministros para 9.873 — e o auge atingiu 11.606. Esse era um relatório maravilhoso de se poder apresentar pessoalmente aos irmãos Knorr e Henschel quando visitaram este território pela primeira vez. Foi então que o irmão Knorr decidiu estabelecer uma nova filial aqui na Rodésia do Norte, tendo H. W. Arnott como servo de filial. O presidente da Sociedade também teve uma entrevista com o Secretário Para os Assuntos Nativos e o Procurador-Geral, e lhe foi assegurado de que era a intenção do governo acabar em breve com a proscrição sobre nossas publicações e atividades.
Imediatamente, cursos especiais de treinamento foram providos para os representantes viajantes da Sociedade e a alfabetização se tornou uma consideração primária entre as congregações. ‘Cada um ensine um’ se tornou um lema familiar na campanha. Os servos de circuito davam atenção especial ao assunto quando visitavam cada congregação. De início, o progresso foi vagaroso, mas, então, surgiu verdadeiro êxito. No período entre 1959 e 1969, em média, 720 pessoas aprenderam a ler e escrever a cada ano. Numa enquête realizada em 1970, com efeito, verificou-se que, dos mais de 50.000 publicadores no país, mais de 36.000 sabiam ler e mais de 32.000 sabiam escrever. Isto e ainda mais notável quando se considera que, da inteira população de 2.500.000 pessoas, em 1963, umas 1.247.760 eram analfabetas, segundo relatado.
Foi uma ocasião feliz quando, a partir do número de 1.º de agosto de 1949, A Sentinela ficou por fim livre da proscrição. Uma edição mensal na principal língua vernacular, cibemba, era mimeografado na filial em Lusaka e despachada a todos os assinantes. O irmão Mwango lembra-se de preparar a tradução, enquanto ainda servia como servo de circuito, escrevendo-a por extenso à mão, amiúde a luz de velas, noite adentro. No ínterim, tornou-se necessário ampliar o local alugado para a filial, a fim de alojar os trabalhadores extras e para mimeografar 7.000 exemplares de cada A Sentinela em cimbemba e silozi.
Os graduados de Gileade, B. M. Holcomb e E. H. Kielhorn, chegaram em 1949, seguidos de perto por outros dois, John e Kay Jason, em 1950. Neste último ano, uma assembléia de circuito em inglês atraiu um auge de assistência de setenta e quatro pessoas. Também, o irmão Phillips pôde relatar, na Assembléia “Aumento da Teocracia”, no Estádio Ianque, que nosso total de publicadores subira para 15.196, com 40.000 pessoas comparecendo à Comemoração da morte de Cristo. Nessa ocasião, o irmão Phillips permaneceu em Nova Iorque para cursar a décima sexta turma de Gileade, que se formou em fevereiro de 1951.
Por volta desse tempo, Harrison Nyendwa, servo de circuito encontrou-se com um rapaz na cidade de Choma, na província meridional, Mukosiku Sinaali, que trabalhava no correio local. Os líderes da Nova Igreja Apostólica logo vieram a saber do estudo bíblico então iniciado e tentaram obter de volta este membro de sua igreja, que se desviava. Foi arranjada uma reunião, e os anciãos da igreja iriam provar a Mukosiku que esta nova religião estava inteiramente errada. Mukosiku relata o que se seguiu: “Depois de fracassarem durante duas horas de provar que a sua era a religião certa, os cinco anciãos se levantaram e, num acesso de ira, enrolaram as mangas da camisa para nos bater. Sorrindo, o irmão Nyendwa usou sua Bíblia para mostrar quão anticristão seria lutarmos. Derrotados, mas não admitindo a derrota, ameaçaram: ‘Nós invocaremos o fogo sobre esta casa e aqueles que sobreviverem serão os verdadeiros adoradores!’ De novo Harrison indicou que isso também seria anticristão, usando o texto de Lucas 9:54, 55, onde Jesus repreendeu seus discípulos por quererem ‘mandar vir fogo do céu e aniquilar’ os inóspitos samaritanos. Esta derrota humilhante provou para minha inteira satisfação qual era a religião verdadeira.”
Mais tarde, promovido a subchefe da agência em Sesheke, na Barotselândia, Mukosiku fez questão de dizer algo sobre a verdade da Bíblia a cada freguês. Isto, junto com o fato de que Mukosiku não chamava de “padre” a um sacerdote católico-romano, o deixou irado, apresentando queixa ao Comissário Distrital, e o assunto foi à atenção do Diretor-Geral dos Correios. Eis, aqui, em parte, a resposta dessa autoridade ao Comissário Distrital: ‘O Escritório Central não vê nenhum motivo justificável para transferir este senhor. Este ministério sofreu em seqüência três perdas, em forma de malversação dos fundos públicos, por parte dos anteriores subchefes de agência, que cumpriram todos sentenças de prisão. Nós lhe enviamos agora um homem honesto, que achamos que poderá servir melhor ao público. Se é apenas por diferenças religiosas que deseja que ele seja transferido, este ministério não lhe fornecerá nenhuma substituição. Esse senhor foi enviado aí para ficar. No entanto, recomendamos que a Missão Católica faça arranjos para enviar sua correspondência por meio da Agência de Senanga.”
O irmão Sinaali logo se juntou às fileiras dos ministros pioneiros, foi designado servo de circuito em 1958, e, mais tarde, cursou a Escola de Gileade em 1961. Ao se formar, voltou a Zâmbia, onde trabalha no serviço de Betel e em tradução.
Por volta do fim do ano de serviço de 1951, o número dos que relatavam ministério de campo subira para 19.173. Isto deveras atingia as reservas religiosas das soltas da cristandade. Conforme o autor Ian Cunnison observou em seu livro A Watchtower Assembly in Central África (Uma Assembléia da Torre de Vigia na África Central): “No vale de Luapula, a Torre de Vigia tem mais aderentes do que todas as demais missões juntas. Calculo que mais da metade dos que professam ser cristãos na área são da Torre de Vigia, apesar de que os Irmãos Plymouth em Johnston Falls e Kawambwa, e a Sociedade Missionária Londrina em Mbereshi foram estabelecidas há cinqüenta anos, e os Padres Brancos em Lufubu há vinte. Também, a metade quase dos membros da Torre de Vigia originalmente pertenciam a uma das outras missões.” Foram feitos continuamente esforços de incitar as autoridades seculares contra as Testemunhas e suas atividades do Reino.
As assembléias continuaram a trazer vigor e encorajamento aos irmãos. Ao norte do Fort Jameson, no vale de Luangwa, o servo de distrito fala de uma assembléia em que, durante as reuniões à luz duma fogueira à noite, o rugido dos leões abafava às vezes o entoar dos cânticos do Reino. Numa assembléia, em 1952, na ocasião de outra visita do irmão Knorr, cerca de 20.000 pessoas compareceram. Tais reuniões de representantes de toda seção da população e de muitas tribos, ofereciam evidência irrefutável do efeito unificador da verdade bíblica sobre as vidas das pessoas. Sim, as assembléias internacionais também resultaram edificantes para os irmãos de Zâmbia, dos quais vinte e oito delegados (inclusive alguns da Rodésia do Sul), assistiram à Assembléia da Sociedade do Novo Mundo na cidade de Nova Iorque, em julho de 1953.
Com a chegada ao país de ainda outros missionários, seu número, em 1954, aumentara para dezesseis. Estavam sendo formadas novas congregações entre a comunidade de língua inglesa. A obra estava deveras se expandindo, tanto assim que se decidiu comprar um terreno em Luanshya para substituir a propriedade alugada em Lusaka. Isto era particularmente necessário visto que grandes estoques de “Seja Deus Verdadeiro” e “Isto Significa Vida Eterna” estavam começando a chegar. A feliz perspectiva de se mudar para uma casa nova para a filial e lar foi tragicamente prejudicada por um acidente rodoviário ao se partir de Lusaka, em que a irmã Marion Arnott ficou fatalmente ferida.
O grande influxo de novos associados exigia a expansão de outra forma bem tangível — eram necessários mais e melhores Salões do Reino. Até este tempo, os locais de reunião eram amiúde bem primitivos — com paredes de varas e de barro, teto de calmo, chão de terra e bancos baixos de barro, sim, até mesmo um terreno aberto sob uma árvore frondosa ou o quintal da casa de alguém. Então, sólidos prédios de tijolos, com telhados de folhas de ferro galvanizado começaram a aparecer, alguns deles com luz elétrica, para contrastar com as reuniões nos povoados que tinham de ser realizadas durante o dia ou, se à noite, ao redor duma fogueira. Com muita freqüência o Salão do Reino é agora a estrutura mais imponente dos povoados do interior, misturando-se com o fundo rural e nitidamente embelezado com canteiros de flores.
Muito estimulante para os irmãos em Zâmbia foi uma nova modalidade de nossa campanha educativa, a saber, o uso de filmes tais como “A Sociedade do Novo Mundo em Ação”. Mais de 42.000 pessoas viram este filme em seu primeiro ano, a partir de 1954. As autoridades governamentais e educativas igualmente ficaram com profundas impressões. E a exibição de “A Felicidade da Sociedade do Novo Mundo” constituiu um momento decisivo na vida de um chefe polígamo dum povoado. Depois de notar como as pessoas abandonavam as práticas do velho mundo, tais como a poligamia, ele pôs de lado sua segunda esposa, e solicitou que fosse iniciado um estudo bíblico com ele e sua primeira esposa.
Na Província de Barotse, lar do povo lozi, o servo de distrito exibiu o filme à família real, abrangendo umas 230 pessoas, nos terrenos do palácio. O Litunga ou Chefe Principal perguntou-se poderia ser exibido a seu povo. Na noite seguinte, houve uma assistência de 2.500 pessoas. Na mesma viagem, o equipamento do filme foi transportado de barcaça a uma assembléia numa Área isolada onde muitos jamais tinham visto antes um filme. Em duas exibições, houve uma assistência de 1.800 pessoas, inclusive autoridades governamentais. Todos os seis filmes da Sociedade já foram então exibidos no país, com bem mais de um milhão de espectadores. Por certo, trata-se dum modo excelente de familiarizar as pessoas com a natureza desta sociedade baseada na Bíblia!
Que maravilhoso começo, então, para o ano de serviço de 1955-1956! A Assembléia do “Reino Triunfante” foi realizada às margens da corrente Mwambashi, a uns dezesseis quilômetros de Kitwe. O irmão Henschel, de Brooklyn, serviu a esta reunião e lançou diante da assistência emocionada de 36.000 pessoas o folheto “Estas Boas Novas do Reino” tanto em cibemba como em cinianja. Daí, em fevereiro de 1956, veio o despacho de 36.000 exemplares do livro “Isto Significa Vida Aterra” em cibemba. A assistência na Comemoração da morte de Cristo naquele ano subiu a 70.749 pessoas.
Um rapaz, Smart Phiri, fala como entrou em contato com a mensagem da verdade: “Certo dia, eu quis convencer esta Testemunha de que sua religião estava completamente errada. Visto que eu estava de folga, levei minha Bíblia em cinianja, comprada por ocasião de meu batismo na Missão Merwe, e dirigi-me ao local de trabalho dessa pessoa. Logo que ele me viu, disse: ‘Parece que hoje realmente o negócio é sério, porque notei que trouxe sua Bíblia.’ ‘Sim’, respondi, ‘desejo convencer-lhe de que vocês, da Torre de Vigia, não são nunca a igreja verdadeira.’ Ele me deu a oportunidade de começar primeiro e de mostrar na Bíblia que minha igreja estava certa. Bem, eu não sabia onde começar, de modo que ele com jeito tomou a liderança e começou a me ensinar vários assuntos. Isto durou das 8,30 da manhã até as 17,30 da tarde, sem interrupção para o almoço. E, naturalmente, seu patrão não podia queixar-se, pois ele não parou de trabalhar em sua máquina de costura, mas deixou o trabalho de encontrar e ler os textos bíblicos para mim. Este dia foi um marco na minha vida, e devo admitir que foi nesse dia que Deus respondeu à minha oração para me dar esclarecimento.”
Nessa mesma noite, Smart Phiri acompanhou a Testemunha ao Salão do Reino. De início, houve grande consternação quando os outros irmãos viram esse delegado de polícia em seu meio. Desde então, Smart Phiri começou a freqüentar as reuniões com sua esposa. Terminou seu contrato com a polícia e dedicou sua vida a Jeová, entrando no ministério de tempo integral em outubro de 1956. No mês seguinte, foi convidado a participar na equipe da filial em Luanshya. Mais tarde, ele usufruiria muitos outros privilégios de serviço.
A força missionária do país, no ínterim, aumentava; Joseph Hawryluk, John e Ian Renton, Gene Kinaschuk, Paul Ondejko, Peter e Vera Palliser, Avis Morgan e Benson Judge, contribuíram todos seus esforços para o adiantamento das “boas-novas” nos anos seguintes. Quão felizes ficaram de ter uma parte em fazer a prospecção e escavar mais das ‘coisas preciosas’ de Zâmbia, em que Jeová mostrava profundo interesse!
Entre tais ‘coisas preciosas’ entesouradas nessa época achava-se um rapaz da tribo de lozi, Solomon Lyambela. Quando tinha apenas quinze anos, esta ‘nova fé’ começara a ser um elemento perturbados em sua vida. Associava-se então com a Missão Evangélica de Paris. O tio de sua esposa apresentara o novo ensino e todos os membros dos povoados das duas famílias aceitaram-no todos, exceto Solomon. Ele não concordava. Mais tarde, porém quando o serviço secular o levou a outra área, compareceu a uma das reuniões das Testemunhas e aceitou alguns folhetos inclusive Onde Estão os Mortos? Este, e o calibre dos homens e das mulheres que se empenhavam no ministério de casa em casa, impressionaram-no de modo profundo. Imagine só a surpresa de sua família quando ele lhes escreveu e disse que aderia à fé. Tiveram de enviar um membro da família numa viagem de uns 725 quilômetros até Livingstone para constatar a veracidade do assunto. Ele se lembra que a primeira Comemoração da morte de Cristo a que assistiu foi em 1936.
Não foi senão em 1939 que Solomon foi batizado. Daí, em 1940, serviu como leitor de textos quando o irmão L. V. Phillips falava a uma assembléia de quase 300 pessoas em Mongu, a capital da província de Barotselândia. Quando surgiram dificuldades devido à recusa por parte dos irmãos de prestar a saudação do tipo adoração ao Litunga ou Chefe Principal, Solomon e outros irmãos proeminentes foram presos e encarcerados por três meses. Mais tarde, mudou-se para a Rodésia do Sul em busca de trabalho e acabou entrando nas fileiras de pioneiro. Quando voltou à Rodésia do Norte, em 1950, foi designado a servir na obra de circuito. Essa questão da “Showelela” (a saudação real) estava então um tanto em recesso, e lembramo-nos de que este mesmo Litunga viu com prazer os filmes da Sociedade em mais de uma oportunidade. Solomon pôde assim levar um relatório interessantíssimo quando foi convidado à Escola de Gileade em 1958.
A PODA ESTIMULA O CRESCIMENTO
Novamente a Rodésia do Norte foi bem representada na Assembléia Internacional “Vontade Divina” em Nova Iorque, em 1958. Trinta e dois delegados foram daqui, dos quais oito eram da congregação de língua inglesa de Kitwe. Naquela assembléia, Harry Arnott falou aos milhares reunidos no Estádio Ianque sobre como a obra do Reino neste país realmente prosperava — havendo então um publicador para cada oitenta pessoas na Rodésia do Norte. E, ao passo que as minas do Cinturão de Cobre ainda caminhavam para o seu ano mais produtivo, o povo de Jeová se preparava para um ajuntamento que ultrapassaria tudo que já se testemunhara neste país. Pouco mais de quatorze hectares de terra fora da cidade de Ndola foram limpos em preparação para a Assembléia Nacional “Ministros Fiéis” em abril de 1959.
Um grupo de desassociados veio a esta assembléia, esperando que seu líder fosse reconhecido pelo presidente da Sociedade, o irmão Knorr. Ao invés, foi-lhes impedida a entrada no local da assembléia, e os irmãos reunidos foram avisados a não terem associação alguma com os malfeitores. As Testemunhas fiéis, por outro lado, apreciaram um grandioso programa que recebeu seu devido quinhão de publicidade na imprensa pública. Disse certo editorial: “As Testemunhas estão ligadas à Sociedade Torre de Vigia [dos EUA] que foi proscrita na Rodésia do Norte, mas, de todos os relatos, as áreas em que as testemunhas de Jeová são mais fortes entre os africanos são agora as áreas mais livres de dificuldades do que a média. De certo têm sido ativas contra os agitadores, a feitiçaria, a embriaguez e a violência de qualquer espécie. Anima-se o estudo minucioso da Bíblia.” O mesmo editorial observou o aumento dos pregadores ativos entre as testemunhas de Jeová em sete anos — 13.300! A assistência no discurso público desta assembléia inesquecível resultou ser de 29.596 na seção vernacular e 405 na seção de língua inglesa.
Durante esta visita, o irmão Knorr considerou possíveis locais para nova sede da filial, e o sinal de ir avante foi dado para prosseguir com a construção do proposto prédio do lar e da filial no terreno comprado pela Sociedade em Kitwe. Havia toda perspectiva de mais prospecção bem sucedida das ‘coisas preciosas’ nesta parte do campo. Na verdade, o êxito era às vezes conseguido por meio de provas, dificuldades e perseverança através dos laços diabólicos colocados no caminho dos verdadeiros cristãos, assim como foram colocados no caminho de Cristo Jesus. Às vezes era preciso haver completa poda dos maus elementos que vieram a associar-se com o povo de Jeová. Por exemplo, no ano de serviço de 1960-1961, 414 pessoas foram desassociadas por vários motivos, tais como adultério, poligamia, troca de esposas e feitiçaria.
Em contraste com o costume tribal de segregar os homens e as mulheres nas reuniões, costume que estabelece barreiras à união familiar cristã, o livro Christians in the Copperbelt (Cristãos no Cinturão de Cobre) observou a prática entre as testemunhas de Jeová: “Esta atitude de o homem e a mulher trabalharem juntos em suas unidades familiares era muito óbvia nos lares dos membros da Torre de Vigia que visitamos. As mulheres ocupavam seu lugar na reunião e na palestra sem qualquer embaraço ou a relutância usual em falar. Ao passo que era um tanto difícil, na maioria das outras congregações, achar quem é que estava casado com quem, porque os maridos e as esposas não vinham juntos à igreja nem se sentavam juntos durante o ofício, as famílias da Torre de Vigia eram facilmente reconhecidas em suas reuniões como pequenos grupos de pai, mãe e filhos.”
Ao passo que os ‘ventos de mudança’ políticos sopravam duramente através da Rodésia do Norte, em 1961, as Testemunhas que amam a paz continuaram em sua obra ordenada por Deus. Apesar das condições de emergência, organizaram e usufruíram sua série de Assembléias de Distrito “Adoradores Unidos” em 1961, reunindo-se para tais ocasiões alegres em lugares tais como Kashiba Senanga, Broken Hill, Petauke e perto de Kitwe. As assistência totais excederam 30.000 pessoas. Este ano, também, os cursos dó Escola do Ministério do Reino foram providos, de modo que o superintendentes de congregação pudessem tornar-se mais habilitados para seus deveres de pastorear em relação ao rebanho os congregação de Deus. Os graduados de Gileade foram usados extensivamente neste projeto: Hayes Hoskins concentrou-se no curso para os que falavam cinianja Billy Howard, John Mentor e Wayne Johnson dirigiram os em cibemba e silozi. Um Salão do Reino localizado bem no centro de cada área era escolhido e ali se realizavam vários cursos, indo daí para outra área, e assim o campo todo foi por fim coberto.
Por volta do fim de 1961, a nova filial em Kitwe já estava quase pronta. Foi um dia feliz quando, em 3 de fevereiro de 1962 a nova filial, com seu lar de Betel e Salão do Reino, foram dedicados. Debaixo de uma foto de quatro colunas do inteiro complexo o jornal The Northern News noticiou o assunto: “O trabalho entre as testemunhas de Jeová na Rodésia do Norte, Quênia, Tanganica e Uganda será dirigido de um novo prédio de 20.000 libras estere finas em Kitwe. Abrange dependências para uma equipe de 14 pessoas, um bloco de escritórios, um depósito de livros e um lugar de reuniões para a congregação de Kitwe, com lugares para 200 pessoas. Toda a decoração interior do centro foi feita pelas próprias Testemunhas.”
Politicamente, o ano de 1962 foi importante no país. Uma eleição geral em outubro foi imensamente significativa, assinalando como o fez, o primeiro confronto eleitoral entre os africanos e os europeus, e produzindo o primeiro governo africano. Chegavam continuamente relatórios de casos de intimidação aos irmãos no que tangia à compra de cartões identificando-os com determinado partido político. No meio de tal atmosfera tensa, faziam-se preparativos para a Assembléia Nacional “Ministros Corajosos” em Kitwe, programada para maio de 1963. Quatro arenas separadas foram construídas, de onde se apresentou o programa da assembléia nas quatro línguas principais: inglês, cibemba, cinianja e silozi. De outra forma, foi uma assembléia completamente integrada. O batismo de 631 novos ministros incluía tanto africanos como europeus. Particularmente significativo, em vista do que jazia à frente para os irmãos, foi o discurso explicando Romanos 13, e a relação do cristão para com as autoridades superiores. O irmão Henschel, do Betel de Brooklyn, falou à maior assistência nesta assembléia de cinco dias, quando se dirigiu a 24.551 pessoas no último dia, tendo como tema “Preste Atenção à Profecia”.
A violência e a perseguição esperavam muitos dos delegados que voltavam dessa assembléia. Várias irmãs no distrito de Samfya, ao se verificar que não tinham cartões políticos, foram espancadas e forçadas a beber a urina de seus atacantes. Nessa Área, também, cinco lares e um Salão do Reino foram incendiados. No povoado de Mazangu, na província oriental, os missionários Wayne Johnson e Benson Judge foram obrigados a sair dum povoado ao deixarem de apresentar o cartão. No vizinho povoado de Sikamwenje, foram impedidos de continuar seu trabalho cristão por um motim frenético, que cantava suas músicas. Por volta do fim de setembro relatou-se que um total de dez Salões do Reino haviam sido destruídos. O Zambia News, em seu número de 8 de dezembro de 1963, incluía o seguinte em seu relatório da situação:
“A estória milenar da perseguição das soltas religiosas se repetiu nos povoados africanos da Província de Luapala. Mais de 100 desordeiros políticos foram encarcerados ou esperam julgamento por espancarem as testemunhas de Jeová e derrubarem e incendiarem suas casas e igrejas. . . . A polícia interrogou 30 testemunhas de um típico incidente da política versus religião em que uma turba saqueadora de 600 pessoas, segundo se diz, marchou pela rua principal de Mwansabombwe — povoado do Chefe Superior Kasembe — destroçando as casas das testemunhas de Jeová. Magistrados que voaram especialmente para cá, vindo do Cinturão de Cobre, já mandaram os violadores da lei para a cadeia até por três anos de trabalhos forçados. Mais julgamentos se acham pendentes. Os 14 chefes de uma campanha de violência em Kanyembo foram sentenciados a termos de prisão que iam de dois a três anos. . . . Apesar das ameaças e da violência, as Testemunhas se recusaram a ser intimidadas. Têm reputação de bravura, e se têm provado intrépidas em relatar os casos de terrorismo, afirmou um porta-voz da polícia.”
Naturalmente, foram apresentados protestos imediatamente ao Sr. K. D. Kaunda, o Primeiro-Ministro e chefe do Partido Unido da Independência Nacional. Numa audiência pessoal, os irmãos responsáveis apresentaram perante o Sr. Kaunda os fatos da campanha de violência. O Primeiro-Ministro prontamente despachou por telefone e telegrama a todos os secretários regionais instruções para porem fim a tais atos anárquicos e terroristas. As Testemunhas, de sua parte, tinham sido bem preparadas para enfrentar tais arremetidas, e, em tudo que fizeram, manifestaram seu ódio à violência e seu respeito pela lei e pela ordem. Apesar da ação inimiga, os relatórios para o mês de dezembro de 1963 mostravam um auge de todos os tempos, de 30.728 publicadores. Como resultado de defenderem legalmente seus direitos de pregar e de se manterem separadas do mundo, 199 violadores da lei foram sentenciados a um total de 304 anos de prisão por sua parte nos ataques injustificados contra cristãos pacíficos.
A OPORTUNIDADE DE ZÂMBIA
O partido do Dr. Kaunda obteve avassalador triunfo nas eleições, e, três meses depois, liderou uma delegação à Conferência da Independência em Londres para argumentar a favor de plena independência para Zâmbia sem maiores delongas. De novo, obteve êxito, e, em 27 de maio, informou ao Parlamento: “Obtivemos a oportunidade de fazer deste um país em que todo o nosso povo se sinta feliz de permanecer nele; um país onde as pessoas, durante 24 horas de cada dia, não sintam medo de sair de suas casas por causa de suas crenças políticas, religiosas ou outras.” Assim, em 24 de outubro de 1964, a Rodésia do Norte se tornou a República de Zâmbia, independente e soberana.
O povo de Jeová em Zâmbia considerou com interesse especial as provisões feitas na nova Constituição para os direitos fundamentais, em especial a seguinte provisão: “exceto por seu próprio consentimento, nenhuma pessoa será impedida de usufruir sua liberdade de consciência, e, para os fins desta seção, dita liberdade inclui a liberdade de pensamento e de religião, a liberdade de mudar de religião ou de crença, e a liberdade, quer só, quer na comunidade, junto com outros, e tanto em público como em particular, de manifestar e propagar sua religião ou crença na adoração, no ensino, na prática e na observância.” Seria mantido este elevado princípio?
Já em novembro de 1964, nossos irmãos começaram a enfrentar dificuldades relativas à questão da saudação à bandeira e ao hino nacional. Uma histeria patriótica, sem dúvida estimulada pelos discursos e pelas celebrações da nova era de independência, varreu o país. Então, o alvo imediato foram os filhos das Testemunhas nas escolas em todo o país. Como se fosse diabolicamente planejada, a questão foi agitada na imprensa e a Sociedade Torre de Vigia e as Testemunhas foram postas na luz mais desfavorável possível. Além de toda a publicidade desfavorável, houve então o caso de algumas Testemunhas que ficaram gravemente feridas num acidente rodoviário. Na imprensa pública, as notícias do acidente sublinhavam que as Testemunhas feridas recusaram redondamente aceitar transfusões de sangue.
Certas autoridades da nova administração ficaram com a idéia de que o proceder neutro de integridade dos irmãos e de seus filhos era devido a seguirem um homem, de modo que conspiraram para remover de Zâmbia o servo da filial, Harry Arnott. Com tristeza, ele e sua esposa Zennie partiram do país em dezembro de 1965, e J. S. Mundell assumiu as responsabilidades de servo da filial. Havia 700 congregações no país todo então, e, na Comemoração da morte de Cristo nesse ano, a assistência pela primeira vez ultrapassou o marco dos 100.000, o número real sendo 100.088 pessoas.
Em 1966, continuou o fustigamento das testemunhas de Jeová, certos agentes especiais da polícia interrogando-as sobre sua posição quanto à participação na política. Também, naquele ano, as Testemunhas recebiam atenção nos círculos legislativos. Depois de considerável debate, A Lei da Educação, de 1966, foi posta em vigor, estabelecendo que em todas as escolas os alunos teriam de cantar o hino nacional e saudar a bandeira nacional, sendo a única alternativa a expulsão da escola. Daí, seguiu-se outra lei, a Lei da Ordem Publica (Emenda), de 1966, exigindo que todas as reuniões públicas precisavam ser iniciadas com o entoar do hino nacional. Essa lei entrou em vigor em 1.º de janeiro de 1967. Muitos pais e filhos acharam difícil entender como a liberdade de consciência poderia existir lado a lado com editos governamentais como estes, editos que chegavam ao ponto de determinar como a consciência de uma pessoa deveria encarar estes símbolos nacionais.
Isto significava que não era mais possível realizar assembléias às quais se convidasse o público. No entanto, os irmãos continuaram a organizar serviços religiosos intercongregacionais em áreas particulares fechadas, livres apenas para as testemunhas de Jeová e seus amigos. Apesar dos esforços de interferir nestas, quase todas elas foram realizadas, e, mesmo com a falta de convites para o público em geral, as assistências continuaram aumentando cada vez mais. Em fins de 1966, todas as oito Assembléias de Distrito “Filhos da Liberdade de Deus”, com uma assistência total combinada de 49.528 pessoas, foram realizadas sem incidentes. Quão encorajador, também, foi verificar uma nova assistência-auge na Comemoração da morte de Cristo de 1967 — 120.025 pessoas, sendo que 26 participaram dos emblemas.
Uma assembléia de circuito em Kabompo, na Província Noroeste, foi interrompida antes de sequer começar, a polícia usando até mesmo granadas de fumaça e bombas de gás lacrimogêneo no esforço de intimidar os cristãos inofensivos. Isto ocorreu dois dias antes de a assembléia começar. Foram incendiados os dormitórios e a arena de reunião da assembléia. Os irmãos que se tinham temporariamente dispersado para os povoados vizinhos, voltaram na sexta-feira, começaram a trabalhar de novo, preparando-se para a chegada de uns 400 delegados, e o programa para sábado e domingo continuou normalmente. O incidente obteve ampla publicidade, refletindo bem sobre a conduta pacífica das Testemunhas.
Numa assembléia posterior na mesma província, em Solwezi, a polícia apareceu de novo sob as ordens do mesmo oficial que dirigira o ataque em Kabompo. Desta vez, ele se aproximou do servo de distrito, contribuiu para ficar com algumas publicações da Sociedade, ao passo que seus homens ouviram quietamente o programa. Depois da exibição do filme “Deus não Pode Mentir”, alguns dos oficiais foram ouvidos, tecendo observações: “A Torre de Vigia é a única igreja verdadeira.” O servo de circuito relatou que, nas três congregações próximas da cena do ataque de bombas lacrimogêneas, vinte novos publicadores começaram a participar no ministério.
PREGAR EM TEMPOS ATRIBULADOS
No meio de condições provadores, o serviço do Reino traz muitas experiências alegres para aqueles que perseveram realmente. Exemplificando: um servo de circuito mencionou como, na área da famosa Reserva Animal do Vale Luangwa, teve de andar e pedalar sua bicicleta por uns 102 quilômetros através dos pantanais, a fim de chegar a seu próximo grupo isolado. Amiúde, ficava com água a um metro e vinte de altura, e havia a contínua tormenta das moscas tsé-tsé. Chegou a um acampamento da Guarda dos Animais que fornecia água para a pessoa lavar-se, além de alimento e um local de dormida. Depois de descansar um pouco o irmão acendeu sua lamparina de querosene e pediu ao Guarda que trouxesse sua família. Professores e alunos de uma escola próxima também vieram, elevando o número em sua assistência para cinqüenta. Para eles, explicou a esperança do Reino, com uma acolhida que plenamente o recompensou por sua viagem perigosa e cansativa. Muitos folhetos e revistas foram colocados e foi obtida uma assinatura de seus ouvintes apreciativos.
O ano de 1967 foi um ano de muita atividade para a filial de Zâmbia. Além de organizar e supervisionar as dezesseis Assembléias de Distrito “Fazer Discípulos”, que tiveram uma assistência total de 77.251 pessoas, houve também a preparação para o processo da questão da saudação à bandeira apresentado ao Supremo Tribunal em Lusaka. A decisão do tribunal foi anunciada em 20 de novembro — uma decisão adversa ao povo de Jeová, uma decisão que negava aos filhos das Testemunhas o direito de se instruir nas escolas públicas do país. Isso significava que era preciso organizar aulas de leitura e escrita para o benefício das crianças expulsas. Em agosto de 1968, os registros mostravam que 5.755 crianças haviam sido expulsas.
Outras medidas drásticas, porém, já haviam sido tomadas contra as atividades do Reino, no início de 1968. Ordens de deportação, visando expulsar todas as Testemunhas alienígenas, foram enviadas aos missionários no país, alguns sendo obrigados a partir em questão de sete dias. Sem dúvida esperavam que a organização das Testemunhas ficasse como um navio sem tripulação, balançando de um lado para o outro num mar tempestuoso. Mas, pelo contrário, voluntários logo preencheram as vagas e a obra do Reino continuou no mesmo passo. As responsabilidades da filial foram assumidas por Smart Phiri, e, como sinal da operação normal dos assuntos, deve-se notar que as doze Assembléias de Distrito “Boas Novas Para Todas as Nações” foram realizadas segundo planejadas, com uma assistência total de 110.952. O drama de Jefté foi uma parte oportuníssima do programa da assembléia.
Em dezembro de 1968, as primeiras eleições gerais na Zumbia independente deveriam realizar-se, e, de novo, o fervor fanático e patriótico se transformou em perseguição violenta contra os servos de Deus. Mais de oitenta casas dos irmãos tiveram suas janelas quebradas; muitos irmãos e irmãs foram fisicamente atacados. Ao se passarem as semanas, a situação se agravou. De povoado em povoado, as Testemunhas estavam sendo caçadas como animais selvagens. Bem mais de mil irmãos ficaram com suas casas e propriedades inteiramente destruídas; centenas sofreram espancamentos. Um irmão teve sua cabeça transpassada por pregos, e outro foi espancado até morrer. Três irmãs foram violadas. Em fins de fevereiro, cerca de quarenta e cinco Salões do Reino haviam sido incendiados e mais de mil irmãos nas áreas de Luapala e Serenje ficaram sem lares. Rapidamente, a Sociedade fez arranjos de fundos da filial se tornarem disponíveis aos destituídos, ao passo que umas seis toneladas de roupas e cobertores generosamente contribuídos pelos irmãos no Cinturão de Cobre foram enviados apressadamente ao local. Passos definidos foram dados pelo Governo para cessar a perseguição, sem que houvesse nenhuma admissão por parte das autoridades governamentais quanto à justeza da posição assumida pelas Testemunhas.
A pressão nos círculos políticos continuou a aumentar para que as Testemunhas fossem inteiramente banidas. O Presidente imunda, contudo, preferiu cuidar pessoalmente da situação, e como ele tencionava fazê-lo se tornou logo evidente. Pelo Decreto-lei N.º 384 de 1969, visando diretamente o ministério de pregação das Testemunhas, e usando poderes de emergência, decretou que “nenhuma pessoa poderá entrar sem o consentimento expresso dos ocupantes, desde agora em diante, em qualquer moradia ou no terreno dela, ou em qualquer prédio, e instar ou advogar a aderência, ou disseminar os ensinos da religião, organização ou sociedade especificada na Tabela [Testemunhas de Jeová; Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados], quer em palavras quer por ações.”
Em face desta virtual proscrição, tornou-se então necessário que os irmãos remodelassem seu ministério, o testemunho incidental assumindo mais importância. Novos modos de se obter o consentimento prévio para se entrar nas casas particulares tiveram de ser desenvolvidos. De um modo ou de outro, as testemunhas de Jeová estavam determinadas a cumprir sua comissão de pregar, dada por Deus. Devido a estes acontecimentos, o tempo antes utilizado no ministério de casa em casa foi em grande medida gasto nas atividades de estudos bíblicos nos lares das pessoas que se sabia estarem interessadas. Assim, em abril de 1971, um auge de estudos bíblicos domiciliares foi relatado, a saber, 47.840. Por certo, este obstáculo intencionado para a atividade do Reino se havia transformado numa bênção!
Em princípios de 1970, tornou-se um assunto de comentários publicados que, em algumas arcas rurais, havia dificuldades em preencher as carteiras escolares em escolas recentemente construídas. Alguns se inclinaram a culpar as testemunhas de Jeová, mas a realidade era que os filhos das Testemunhas haviam sido expulsos das escolas. Os eventos, porém, assumiram nova direção. Alguns professores estavam readmitindo os filhos das Testemunhas. A insistência de entoar o hino e saudar a bandeira estava sendo amainada sob os mais simples pretextos. Alguns filhos das Testemunhas podiam de novo obter instrução escolar, uma vez que exercessem a sabedoria quando se tratasse dos dias de cerimônias escolares.
Durante o ano de 1971, a população de Zâmbia experimentou graves desastres, com fortes secas em uma parte do país, e enchentes catastróficas em outra. Muitos dentre o povo de Jeová partilharam tais sofrimentos, mas tinham a vantagem de ser parte de uma organização amorosa que rapidamente lhes levou o alívio em forma de roupas e suprimentos alimentícios. Acima de tudo, jamais ficam sem sustento espiritual e a certeza do interesse amoroso de Jeová em seu bem-estar. Quão evidente é este amor se demonstra pela prosperidade que acompanha as atividades do Reino! Nos discursos especiais feitos nas congregações e nos grupos isolados através do país em março, havia uma assistência total de 103.760 pessoas. Na Comemoração da morte de Cristo, em 9 de abril de 1971, reuniu uma multidão ainda maior de 166.492 pessoas, das quais 27 participaram do pão e do vinho.
As ‘coisas preciosas’ que Jeová tem ajuntado no campo de Zâmbia acham-se felizes de participar, junto com as co-Testemunhas em todo o mundo, em mais escavação produtiva. Sua determinação de cumprir a vontade de Jeová para elas nestes tempos difíceis, porém momentosos, é recompensada por verem o resultado que Jeová lhes dá. No ano de serviço de 1971, novo auge de 56.996 ministros ativos no campo foi alcançado, isto resultando num auge de 4.295.663 revisitas feitas aos interessados e na média de 53.710 estudos bíblicos domiciliares dirigidos toda semana. Quão confortados é saber que o próprio Jeová está realizando esta obra, conduzindo-a até seu término bem sucedido, e que nós somos cooperadores dele!