O que as nações pobres dizem
NINGUÉM deseja ser pobre. Todavia, hoje em dia há grandes massas de pessoas pobres em toda a parte. Em muitos países, quase toda a população vive em pobreza!
Os líderes mundiais chamam a tais nações de “subdesenvolvidas”. Mas, o que realmente são é pobres. Tais terras são também chamadas de “Terceiro Mundo”, sendo classificadas abaixo dos países ricos e das nações com certo grau de riqueza.
Há séculos atrás, as comunicações limitadas impediam que a maioria das pessoas nos países pobres observassem como viviam as dos países mais ricos. Mas, atualmente, é diferente. As pessoas pobres em toda a parte, devido a jornais, revistas, rádios e televisores, observam como vive “a outra metade”. Desejam também viver desse modo.
Muitas autoridades afirmam que a situação mundial pode tornar-se muito explosiva devido à crescente expectativa das nações pobres. Acha-se que, se sua situação não melhorar, talvez se disponham a aceitar soluções radicais para seus problemas. E, concorda-se também em geral que já se passou o tempo em que as nações pobres podiam ser convencidas de que sua situação era simplesmente seu “destino”, que deviam aceitar passivamente.
“Julgamento de Impedimento”
Na primavera setentrional de 1974, os países “subdesenvolvidos” patrocinaram uma sessão especial da Assembléia Geral das Nações Unidas. Esta sessão de três semanas foi devotada a seus problemas, em especial ao uso de suas matérias-primas por parte dos países mais ricos.
Sobre estas reuniões, disse James Reston, do Times de Nova Iorque: “Há uma espécie de julgamento de impedimento realizado também aqui nas Nações Unidas — não de um só homem, mas de uma civilização. As nações pobres estocam os artigos de impedimento cada dia contra as nações ricas.”
O que dizem as nações pobres? Seus ‘artigos de impedimento’ são apresentados na página seguinte.
Estas são algumas das queixas que as nações pobres apresentam. Também apontam o tremendo superconsumo ou até mesmo desperdício por parte das nações mais ricas. Por exemplo, o mundo gasta agora mais de Cr$ 1,6 trilhões por ano em armas, principalmente as terras industriais. As nações pobres pensam nas muitas coisas que poderiam ser feitas com todo esse dinheiro para minorar sua situação. Todavia, é um fato que considerável parte dos orçamentos anuais da maioria das nações pobres também é devotada aos gastos com armas!
Os países pobres podem também apontar que, se os estadunidenses comessem apenas um hamburgo a menos por semana, o cereal poupado seria mais do que se espera que a Índia importe num ano. Calcula-se também que os fertilizantes que os estadunidenses espalham em seus gramados, arbustos e flores muito contribuiriam para acabar com o déficit de fertilizantes da Ásia, ajudando os asiáticos a alimentar-se. Também, segundo os peritos agrícolas, a quantidade de cereal usado todo ano para produzir bebidas alcoólicas nos EUA, poderia manter 500.000 pessoas vivas no Sul da Ásia nesse mesmo ano.
Mas, será realístico esperar que as pessoas nas nações mais ricas se privem de tais coisas para ajudar os países mais pobres? Pergunta James Reston: “Podem as nações ricas e pobres continuar assim, Podem as nações avançadas consumir, gostar, e cobrar o que cobram pela mão-de-obra, e ignorar a miséria da maioria da raça humana nos países pobres?” Então observa o que os países pobres perguntam: “Será que os grandes países chegarão sequer a ouvir?” “A resposta”, afirma Reston, “obviamente é ‘ainda não’”.
E assim, ao continuar o debate internacional, aumenta o pessimismo. Por quê? Porque os problemas da maioria das nações pobres não estão sendo solvidos. Estão piorando.
Avolumam-se os Problemas
Apesar de toda conversa e esforço no sentido do “progresso”, o número de pessoas pobres do mundo aumenta. Hoje em dia, quando os homens viajam à lua e domina-se o poder do átomo, há muito mais pessoas famintas, pobremente vestidas, inadequadamente abrigadas e analfabetas no mundo do que jamais houve na história! Quantas? Responde o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim:
“A acusação mais devastadora, de per si, contra nossa atual civilização mundial é a existência continuada da pobreza completa e difundida entre dois terços da população mundial.
“Permeia toda fase da vida nos países em desenvolvimento: na subnutrição das crianças, nos surtos de moléstias, no amplo desemprego, nas baixas taxas de alfabetização, nas cidades apinhadas.”
A presente população mundial é de cerca de quatro bilhões. Dois terços, segundo Waldheim, acham-se em rematada pobreza. Isso é cerca de 2.600.000.000 de pessoas! Todavia, a população do mundo, em especial nas nações pobres, cresce explosivamente. À taxa atual, dobrará em apenas trinta e cinco anos. Assim, o especialista sueco em alimentação, Georg Borgstrom, afirma:
“O crescimento explosivo do número de humanos ameaça varrer os progressos que a humanidade tem feito e minar todos os valores humanos, mergulhando crescente parte da humanidade em abjeta pobreza.
“Contrário à crença geral e apesar de nossas contramedidas, o número de famintos, sedentos, pobres e analfabetos, aumenta implacavelmente, tanto em termos relativos como absolutos.”
A Índia, o segundo país mais populoso do mundo, tem cerca de 600 milhões de pessoas e adiciona 13 milhões mais a cada ano agora. Um ministro do gabinete daquele país calcula que agora cerca de dois terços do povo da Índia vivam “abaixo da linha de pobreza”. Isso é cerca de 400 milhões de pessoas! Segundo o relatório, tais pessoas têm a renda média de cerca de Cr$ 50,00 por mês. O número de desempregados no interior aumentou seis vezes em vinte anos, indo de mais de três milhões para mais de dezoito milhões agora. E, a condição da Índia continua a agravar-se devido a colheitas ruins e o custo dramaticamente mais alto do que tem de importar, como petróleo e fertilizantes.
O número de analfabetos, pessoas que não sabem ler num escrever, aumenta. Cerca de três quartos de todas as pessoas nas nações Africanas são analfabetas. A metade da Ásia o é. E cerca de um quarto de todos os latino-americanos são analfabetos.
Em alguns países, a pobreza se tornou tão grave, e aparentemente desesperadora, que “deu novas dimensões à palavra ‘pobreza’”, afirma a revista Atlantic. Sobre uma das nações asiáticas, esta publicação afirma:
“Poder-se-ia dizer que já foi muito além para poder ser alistada entre as nações do Terceiro Mundo; encabeça um emergente Quarto Mundo de estados jovens e destituídos, só mantidos vivos através de grandes transfusões de ajuda estrangeira.
“Afundariam como pedras sem esmolas internacionais . . . Ninguém precisa deles, nem os deseja.”
Amplia-se a Lacuna
O que alarma muitas autoridades é que a maioria das nações pobres estão ficando ainda mais para trás das ricas. A renda das pessoas da Europa e da América do Norte tem sido muito maior do que a renda das pessoas nos países pobres. E a lacuna aumenta, e não diminui.
Para exemplificar: as estatísticas das Nações Unidas revelam que, num período recente de oito anos, a renda da pessoa mediana nos Estados Unidos aumentou 25 vezes mais que a da pessoa mediana na África, 16 vezes mais que as rendas na Ásia, e 9 vezes mais que as da América Latina.
O mesmo se dá com a produção de alimentos. Num recente período de seis anos, a produção média de alimentos per capita aumentou 9 por cento na Europa Ocidental. Mas, durante o mesmo período, diminuiu em 5 por cento na África. A América Latina e Oriente Próximo não revelaram nenhum aumento per capita. E tais estatísticas foram liberadas antes da desastrosa escassez de alimentos ocorrida no passado recente na África e em partes da Ásia.
Nem é realístico que as pessoas nas nações pobres pensem que, algum dia, possuirão os bens materiais que as nações mais ricas possuem. Se todas as nações fossem produzir os bens que os EUA produzem, isso exigiria que a produção mundial de matérias-primas aumentasse a uma taxa fantástica. Por exemplo, a produção de ferro e zinco teria de crescer cerca de 75 vezes a da quantidade atual. Teria de haver 200 vezes mais chumbo, e 250 vezes mais estanho. Em vista de que, mesmo agora. os recursos da terra se acham pressionados a sustentar enormes e crescentes apetites do mundo industrial, tal produção para levar as nações mais pobres a emparelhar-se com as nações mais ricas acha-se presentemente além do domínio do possível.
Recentemente, as nações produtoras de petróleo aumentaram quatro vezes os preços do petróleo. Isto resultou grave golpe para as nações industriais. Mas, para as nações pobres, resultou ser catastrófico. Tais nações já não conseguiam financiar seu crescimento até mesmo antes de tal aumento. É por isso que o Chanceler Helmut Schmidt, da Alemanha Ocidental, disse: “Os países em desenvolvimento acham-se em perigo de ficarem encalhados. Sua própria existência vê-se ameaçada pelos crescentes preços do petróleo.”
Estas sombrias perspectivas para as nações pobres foram observadas pelos autores Paul Ehrlich e Dennis Pirages em seu recente livro Ark II (Arca II). Apontaram:
“É evidente que crenças mui prezadas de que as [nações pobres] possam algum dia emparelhar-se com os países industriais não são nada mais do que mitos propagados pelas que ‘têm’ para manter as que ‘não têm’ em linha.
“Os dados mostram que o abismo entre as nações ricas e as nações pobres se esta ampliando, e não diminuindo.”
Mudança de Atitude
O abismo que se amplia também produz serias conseqüências para as nações mais ricas. Isto se dá devido à sua crescente dependência de matérias-primas das nações do “Terceiro Mundo”. Mas, agora, tais nações mudaram de atitude sobre como seus recursos serão usados e pagos.
Exemplo disto foi a ação tomada pelas nações subdesenvolvidas e produtoras de petróleo, mandando ondas de choque por todas as terras industriais. Por muitas décadas, as nações mais pobres, produtoras de petróleo, tiveram de vender seu petróleo a um preço relativamente barato. Recentemente, porém, tais nações se juntaram e concordaram em quadruplicar seus preços. O xá do Irã expressou a atitude mudada de tais nações por afirmar: “Acabou-se a era do petróleo barato. Temos de adicionar que acabou-se a era da exploração.”
Depois de observar o que aconteceu aos preços do petróleo, declarou o chanceler Schmidt, da Alemanha Ocidental: “A contenda quanto aos preços de petróleo talvez seja seguida amanhã por uma contenda similar quanto aos preços de outras matérias-primas importantes.” Esse conceito foi reforçado pelo primeiro-ministro da Jamaica, país rico em bauxita, que produz alumínio. Declarou:
“As nações subdesenvolvidas não mais podem continuar a fornecer matérias-primas aos países desenvolvidos na velha base, e, num mundo inflacionário, é importante relacionar o valor das matérias-primas ao valor dos produtos acabados.”
As nações pobres lançaram claro desafio às ricas. Não mais aceitarão passivamente o que as nações industriais presumiram por mais de duas centúrias. Tal suposição era que sempre haveria matérias-primas baratas disponíveis das nações pobres. Esse não é mais o caso.
No entanto, o dilema das nações pobres é que a maioria delas não foram abençoadas com abundantes matérias-primas. A maioria delas têm carência de abundantes recursos minerais e petrolíferos. Na maior parte são terras agrícolas, e, nos anos ruins, não têm nada em que se apoiar para vender a outras nações. Assim, não disporão dos recursos para comprar os alimentos e as outras coisas que precisarão para ajudá-las nos anos ruins. É justamente isso que acontece agora a vários países da África, Ásia e América Latina.
Assim, em uma nação pobre, um poeta irado escreveu: “Como suportamos o sol quente? Por sermos tostados por ele. Como nos abrigamos da chuva? Por nos ensoparmos nela. Como afastamos a fome? Por Morrer de Fome. Como curamos as doenças? Pela Morte.”
Quão óbvio é que o sistema de coisas da terra, hoje em dia, não funciona! A humanidade precisa terrivelmente dum novo sistema, um que traga benefícios às pessoas de todas as nações. Apenas a vindoura nova ordem de Deus pode fazer isso, e fará mesmo.
[Quadro na página 9]
‘ARTIGOS DE IMPEDIMENTO DAS NAÇÕES RICAS’
1. Cerca de um de cada três bebês nascidos nas nações pobres morre antes de atingir cinco anos;
2. Para as crianças sobreviventes, afirma o Dr. Mubashir Hasan, ministro das finanças do Paquistão, “é uma vida de privação, desespero e degradação. É uma luta intensa, mas, misericordiosamente breve, visto que sua duração média de vida não é de mais de trinta anos”;
3. A crescente catástrofe que engolia muitas nações africanas devido à seca e à má administração está além da imaginação das nações avançadas. Também é uma reprovação às Nações Unidas, que prometeram em sua Carta promover “níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social”;
4. As nações do que se costumava chamar de Ocidente Cristão e agora é chamado de Ocidente Industrial ou Mundo Desenvolvido ou Avançado tapeiam os países pobres. Como? Por comprarem muito barato as matérias-primas e outros produtos das nações pobres e venderem a elas produtos manufaturados a um preço muito alto;
5. As nações ricas pagam a seus trabalhadores de dez a vinte vezes mais do que recebem os trabalhadores dos países pobres. Se o pagamento fosse mais ou menos igual, os países pobres receberiam cerca de US$ 250 bilhões mais, cada ano, por seu trabalho e produtos.