Fiéis a Deus apesar da brutal perseguição
PELA quarta vez nos anos recentes, cristãos inocentes tornaram-se alvo de brutal perseguição no país africano de Malaui. Conforme relatado na edição de 22 de janeiro de Despertai!, milhares de testemunhas de Jeová que, em 1972, obtiveram permissão de entrar no vizinho, Moçambique, depois de irromper terrível perseguição em Malaui, foram repatriados à força para Malaui. Ali, mais uma vez enfrentam tratamento horrível, degradado.
Todavia, tudo isso se dá, não por causa de qualquer violação da lei por parte de tais cristãos. Através do mundo, as testemunhas de Jeová são conhecidas como cidadãos mui cumpridores da lei. Conforme Guy Wright observou no Examiner de São Francisco: “Poder-se-ia considerá-las cidadãos modelares. Pagam diligentemente seus impostos, cuidam dos doentes, combatem o analfabetismo.” E reconhece-se que, entre elas, não grassam o crime, a corrução e a imoralidade tão comuns na terra hoje em dia.
Mas, em Malaui, as testemunhas de Jeová, como em toda outra parte, mantêm coerentemente sua posição de neutralidade nos assuntos políticos, com base na Bíblia. Jesus disse sobre seus seguidores: “Não fazem parte do mundo. assim como eu não faço parte do mundo”. (João 17:14) Por isso, em Malaui, recusaram comprar carteiras políticas de membros do partido expedidas pelo governamental Partido Congressista Malaui, carteiras estas que trazem o retrato do Presidente Vitalício de Malaui, Dr. H. Kamuzu Banda, ancião da Igreja Presbiteriana. Esta recusa resultou em terrível perseguição, instigada nos mais altos níveis governamentais.
Permanecer Firme
O espírito destas Testemunhas malauis resultou ser fonte de grande encorajamento tanto entre elas mesmas como também para seus irmãos e irmãs espirituais em outros países. Demonstram ao mundo que, nesta década de 1970, há deveras cristãos que mantêm sua fé em Deus, não importa que brutal perseguição lhes sobrevenha.
Isto foi demonstrado pela expressão de muitas Testemunhas malauis que, ao serem entrevistadas, disseram: “Jamais transigiremos quanto à nossa fé em Deus, mesmo se confrontados com a ameaça de morte às mãos destes brutais agressores.”
Deveras, uma Testemunha idosa de Malaui, disse, quando entrevistada: “Sabemos que Jeová deve ter um propósito ao permitir que tais coisas aconteçam conosco. Estamos determinados a cooperar com ele até que Seu propósito se realize.”
O observador comentou: “Todas as Testemunhas, junto com seus filhos pequenos, pareciam estar bem fortes, espiritualmente.” Também, o entrevistador relatou que seus superintendentes cristãos “não demonstravam medo de nada, mas estavam determinados a prosseguir com sua obra de pastoreio, viesse o que viesse”.
Que testemunho de sua fé é isso para todo o mundo! Através das eras vindouras na nova ordem de Deus, quando os atos dos cristãos verdadeiros nesse tempo do fim forem relembrados, como se falará bem do seu atual proceder fiel!
Fuga Para Zâmbia
Recentemente, quando dezenas de milhares de testemunhas de Jeová malauis foram enviadas de volta à força para Malaui, milhares delas fugiram para a vizinha Zâmbia. Ali os refugiados acamparam em Sinda Misale, no distrito de Chipata, onde foi dada oportunidade às congregações vizinhas das testemunhas de Jeová de enviar suprimentos de socorro, inclusive alimentos e remédios. Cerca de 4.800 Testemunhas refugiadas acamparam na extrema província meridional de Zâmbia, perto da fronteira malaui, até fins de outubro passado.
Os que visitavam o acampamento ficavam surpresos com a azáfama de atividade. Um deles disse: “Em toda a parte havia atividade. Alguns irmãos demarcavam terrenos onde os recém-chegados construiriam seus abrigos, ao passo que outros, que já haviam recebido terrenos, estavam ocupados em construí-los. A parte terminada do acampamento era asseada e limpa.”
Este observador também notou muitas Testemunhas — homens, mulheres e crianças mais velhas — espalhadas pelas matas, cortando estacas e grama para tais abrigos. As mulheres recolhiam terra negra para o piso de seus abrigos.
À medida que as testemunhas de Jeová descarregavam os suprimentos de socorro, perguntou-se ao oficial dos refugiados que estava encarregado do acampamento quais eram suas impressões. Disse: “Estou bastante surpreso com essa gente. São tão trabalhadores e precisam de muito pouca supervisão. Estou seguro de que, se se desse-a essa gente um terreno, dizendo-lhes que o cultivassem, poderiam fazer tremendo trabalho.”
O trabalho árduo e a disciplina também eram evidentes na clínica montada no acampamento. Ali, pessoal médico das Testemunhas cuidava dos doentes em cooperação com três enfermeiros do governo de Zâmbia. Observou-se que as Testemunhas no acampamento eram bem fortes e ativas, embora a maioria delas estivesse magra devido a terem passado sem alimentos na floresta, por muitos dias, antes de chegarem a Sinda Misale.
Nenhuma Transigência Apesar do Sofrimento
Muitos relatórios foram entregues no acampamento de Sinda Misale falando do sofrimento, tanto de Testemunhas adultas como de seus filhos, às mãos de autoridades, do Partido Congressista Malaui, de jovens e de policiais.
Para exemplificar, em 28 de setembro de 1975, seis Testemunhas, homens e mulheres, foram levados à seção de Chimutu do Partido Congressista Malaui na região de Lilongwe. Ordenou-se-lhes que comprassem carteiras do partido, mas todos recusaram. Daí, essas Testemunhas foram amarradas e espancadas impiedosamente.
Na aldeia de Mkochi, uma Testemunha idosa foi brutalmente espancada por jovens por não querer comprar uma carteira política do partido. Um de seus dentes foi arrancado no decorrer da surra, e ela foi deixada desmaiada.
Outra Testemunha idosa, da aldeia de Mambala, relatou que, ao chegar em casa, em 26 de agosto, vindo de Moçambique, junto com sua filha grávida, as autoridades do partido exigiram que comprassem carteiras políticas. Ao verificarem que essas duas senhoras não iriam comprá-las, foram expulsas da aldeia. A Testemunha idosa, junto com sua filha grávida, continuaram a dormir fora da aldeia, debaixo duma árvore.
Alguns dias depois, chegou a hora de a filha dela dar à luz. A mãe solicitou aos aldeões que lhe permitissem levar sua filha para uma das casas, a fim de dar à luz ali. Todos os aldeões recusaram. O chefe da aldeia zombou dela, dizendo: “Invoque a seu Deus Jeová para lhe mandar uma escada, de modo que possa levar sua filha para o céu, para dar à luz ali.”
A jovem senhora deu à luz sob a árvore, enquanto os aldeões ficaram por ali, espiando. Logo depois de ela dar à luz, o chefe da aldeia, junto com sua gente, expulsou a mãe idosa dela, deixando-a junto com seu bebê recém-nascido debaixo da árvore.
Muitos relatos assim foram contados pelos refugiados no acampamento de Sinda Misale. Todavia, todos os relatos mostravam que aqueles sob perseguição permaneceram firmes. Como relatou um observador: “Até agora não tinham recebido nenhum relatório de transigência, apesar de tantos relatos de perversa perseguição.”
Perseverança sob Prolongada Prova
Chegou um relatório de quatro Testemunhas varões que haviam sido recentemente soltos da prisão em Malaui. Eles, e outra Testemunha, foram presos por um ano e cinco meses antes de serem julgados em junho de 1974. Durante todo esse tempo, foram submetidos a várias formas de tortura, no esforço de obrigá-los a renunciar a sua fé em Deus. Foram submetidos a severos e repetidos espancamentos e a longas sessões de interrogatório, dirigidas por autoridades. Foi-lhes pedido que dessem os nomes de concristãos, tais como dos superintendentes responsáveis. No entanto, permaneceram em silêncio, não traindo seus irmãos.
Daí, as autoridades carcerárias receberam ordens de não fornecer às cinco Testemunhas nenhum alimento, durante nove dias. Foram também trancadas num quarto escuro e não se lhes permitiu ver o sol ou a luz durante dezenove dias. Daí, foram transferidos para outra cela, uma cela muito suja. Um dos homens morreu em virtude dos maus tratos, mas não transigiu. Os outros quatro disseram que oravam fervorosamente a Jeová e foram fortalecidos para suportar esta prova.
Certa ocasião, as autoridades vieram às celas da prisão e trouxeram um pouco de comida para as Testemunhas. Mas, exigiram que estas orassem em voz alta antes de comerem. Visto que as testemunhas de Jeová dão graças a Deus na hora das refeições, isto foi feito. No entanto, logo depois da oração, foram todos acusados de ‘dirigirem uma sociedade ilícita’. Isto se deu porque a pessoa que orou usou as mesmas expressões que são usadas em toda a parte pelas testemunhas de Jeová, inclusive o nome de Deus, Jeová.
Em junho, foram julgados e sentenciados a extremos trabalhos forçados. Mas, quando as autoridades carcerárias viram que tais Testemunhas cumpriam mui fielmente seu trabalho árduo, foram colocadas como encarregadas dos outros detentos. As autoridades carcerárias vieram a respeitar altamente essas Testemunhas.
Também, essas quatro Testemunhas tiveram a liberdade de considerar a Bíblia com outros presos. E o departamento que cuida da prisão tornou disponíveis para o grupo dezenove Bíblias em cinianja. O oficial encarregado disse às Testemunhas: “Queremos que usem essas Bíblias para ensinar a tais criminosos aqui na prisão, de modo que eles também se tornem gente boa como vocês.” Dentro de pouco tempo, iniciaram-se oito estudos bíblicos, um com um dos carcereiros!
Por fim, no início de outubro de 1975, as quatro Testemunhas foram soltas Dirigiram-se para Zâmbia, para o acampamento de Sinda Misale, onde relataram suas experiências. Durante todas essas provas, sentiram que o poder fortalecedor de Jeová estava com eles.
Firmes Apesar de Mais Perseguição
Em fins de outubro, o governo malaui fez arranjos para que esses milhares de Testemunhas no acampamento zambiano fossem repatriados para Malaui. Assim, as Testemunhas mais uma vez enfrentaram a sádica crueldade praticada pelo Partido Congressista Malaui.
Todavia, em face de tudo isso, as testemunhas de Jeová em Malaui se mantêm firmes — homens, mulheres e até mesmo criancinhas. Estão resolvidos a jamais transigir quanto ao que sabem ser certo, o que sabem ser a vontade de Deus. Não cometerão alta traição contra Deus por transigirem quanto à sua fé nele.
Assim, atualmente, outro emocionante capítulo de fé está sendo escrito na terra ditatorial de Malaui. Isso toma seu lugar junto com o registro das muitas pessoas fiéis dos tempos antigos, mencionadas na Bíblia em Hebreus, capítulo 11. Ali ela declara que homens tais como Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e outros “derrotaram reinos [em conflito], puseram em execução a justiça”. Também observa que “outros homens foram torturados porque não queriam aceitar um livramento por meio de algum resgate”, isto é, por transigência ou renúncia à sua fé em Jeová Deus.
Este mesmo capítulo de Hebreus também relata: “Outros receberam a sua provação por mofas e por açoites, deveras, mais do que isso, por laços e prisões. Foram apedrejados, foram provados, foram serrados em pedaços, morreram abatidos pela espada, andavam vestidos de peles de ovelhas e de peles de cabras, passando necessidade, tribulação, sofrendo maus tratos; e o mundo não era digno deles.” — Heb. 11:32-38.
O capítulo 12 de Hebreus, versículo 1, chama a tais pessoas fieis de “tão grande nuvem de testemunhas”. A ‘grande nuvem de testemunhas’ agora inclui, certamente, os cristãos no país de Malaui que demonstram a mesma espécie de fé em Deus. Embora alguns talvez morram, e muitos outros sejam selvagemente maltratados, os fiéis cristãos em Malaui determinaram não permitir que Satanás, o Diabo, e seus agentes aqui na terra violem sua fé. E são confortados pela garantia de que, mesmo se morreram devido à sua integridade para com Deus, poderão “alcançar uma ressurreição melhor”, uma com a perspectiva de vida eterna. — Heb. 11:35.
Também, estes cristãos avaliam que, assim como Jeová permitiu que sobreviesse a perseguição sobre o seu povo antes, tal como no caso de Jó, assim Ele a permite hoje, até o Seu tempo de pôr fim ao mundo de Satanás. E, embora, como no caso de Jó, o período de prova pareça ser prolongado, as testemunhas de Jeová em Malaui confiam que, como se deu com Jó, o resultado final será totalmente satisfatório, mais do que compensando qualquer dano que recebam agora, mediante a brutal perseguição. — Jó 1:9-12; 2:3-7; 42:12-17.
Em breve, agora, os juízos de Deus contra este satânico sistema de coisas serão executados. Ele livrará a terra de sua iniqüidade e dos iníquos, abrindo caminho para justos ‘novos céus e uma nova terra’ que Ele prometeu. (2 Ped. 3:13) Os inimigos de Deus e os persistentes opositores de seu povo “partirão para o decepamento eterno, mas os justos, para a vida eterna”. — Mat. 25:44-46.
Por isso, ao passo que as testemunhas de Jeová em Malaui sofrem terrível perseguição unicamente devido à sua fé em Deus, têm a firme garantia de Deus de que serão recompensadas com a oportunidade de vida eterna em sua nova ordem. Por esta razão, podem regozijar-se, sabendo que a “qualidade provada” de sua fé, “de muito mais valor do que o ouro perecível, apesar de ter sido provado por fogo, seja achada causa para louvor, e glória, e honra, na revelação de Jesus Cristo”. — 1 Ped. 1:6, 7; Sal. 37:10, 11, 28, 29.