O “homenzinho que muda de cor”
“HOMENZINHO que muda de cor! Quem ou o que é isso?”, talvez pergunte. Sou um camaleão, membro da família dos lagartos. Embora certos lagartos norte-americanos, chamados “anólis”, sejam popularmente chamados “camaleões”, os verdadeiros membros de minha família vivem mormente na África e em Madagáscar. Algumas espécies da nossa família também podem ser encontradas na Europa e na Ásia.
Nós, camaleões, variamos grandemente em tamanho. Alguns de meus parentes são tão pequenos que só têm 3,8 centímetros de comprimento, ao passo que outros chegam a atingir cerca de 60 centímetros.
Aqui, na África do Sul, os camaleões receberam uma variedade de nomes por parte dos diferentes grupos lingüísticos, cada um deles sublinhando certas caraterísticas nossas. Em africâner, sou chamado de verkleurmannetjie, significando “homenzinho que muda de cor”, ou trapsuutjies, que significa “pisar suavemente”. Meu nome zulu se deriva do verbo “andar lentamente”. Todos esses nomes são apropriados, conforme veremos.
Minha Aparência
Meu corpo tem a aparência de ser um tanto comprimido e se afila em direção a uma ponta ao longo de minhas costas. E a minha cabeça? Bem, repousa sobre um pescoço curto que não posso virar. Para compensar, o Criador fez meus olhos de forma a poderem mover-se independentemente um do outro. Imagine só isso! Posso olhar para a frente com um só olho, ao passo que o outro pode observar o que acontece por trás de mim. Muita gente que me vê pela primeira vez acha esta caraterística um tanto desconcertante. Meus globos oculares são grandes, porém minhas pálpebras são unidas, de modo que só existe pequena abertura por meio da qual posso olhar para minha presa, mormente insetos. Serem minhas pálpebras assim constituídas é de grande ajuda para mim, visto que ocultam da minha presa o lampejo dos meus olhos. De outra forma, logo ficariam cônscias de mim e fugiriam de meu alcance.
Dispomos duma variedade de “chapéus”, variando de uma espécie para outra. Alguns de nós possuem cristas couráceas ou abas escamosas móveis, ao passo que outros possuem cornos ósseos ou espinhos verrucosos nos focinhos. Muita gente parece crer que usamos estes para lutar, mas não dispõem de evidência disso. É verdade, porém, que os camaleões machos gostam de estabelecer territórios e assustar os machos rivais. Como? Por inflarem de ar seu corpo e incharem sua garganta, enquanto abrem a boca. Tal macho vira-se de borda para seu rival, que assim fica com uma idéia exagerada do tamanho de seu oponente e talvez se vá embora. Sem dúvida, o “chapéu” contribui para a figura impressionante criada.
Mestre da Camuflagem
Os camaleões têm a habilidade de mudar de cor, em resposta a emoções tais como a ira ou o alarma, ou a vários estímulos, inclusive o calor e a luz. Podemos mudar de cor, passando do cinza ao verde, e ao castanho, e, às vezes, até ao amarelo. Esta é uma ajuda para nós ao nos camuflarmos. Life Nature Library — The Reptiles (Biblioteca da Natureza, de Life — os Répteis; p. 58), explica: “A maioria dos camaleões conseguem assumir cores e padrões que se misturam com as cercanias.” Assim, não acha que meu nome “homenzinho que muda de cor” é muitíssimo apropriado?
“Mas”, talvez pergunte, “por que o nome trapssutjies (pisar suavemente)?” Bem, ao subir nos ramos e raminhos das árvores e arbustos que habito, dou a impressão de sondar meu caminho antes de dar o próximo passo. Minhas quatro patas possuem cinco dedos em cada pé, estes estando divididos em dois conjuntos. Um conjunto de dedos aponta para a frente, ao passo que o outro está virado para trás. Por conseguinte, uso meus dedos para agarrar coisas, dum modo bem parecido a que usaria tenazes. Minha cauda preênsil (capaz de segurar) se prova utilíssima, também. Mas quando não a estou usando para agarrar um ramo, usualmente fica enrolada atrás de mim.
Exímio Atirador do Mundo dos Répteis
Quando espreito um inseto, movimento-me à frente a um passo que alguns descreveram como “passo dolorosamente lento”. À medida que levanto cada pé, por sua vez, movo-o para a frente e, então, agito meu corpo para trás e para a frente antes de agarrar o próximo raminho. Os que estudaram tais movimentos afirmam que, visto que meu corpo comprimido se parece um tanto ao formato duma folha, tapeio minha presa a pensar que sou apenas uma folha soprada pelo vento. Esta tapeação é muito eficaz.
Ao usar este método lento de aproximação, cuidadosamente calculo a distância de minha presa. Observo o inseto de vários ângulos, com meus olhos notáveis, visto ser importantíssimo que eu acerte em cheio logo na primeira vez em que atirar minha surpreendente língua.
Uma vez tenha chegado a uma distância de tiro, esta língua pegajosa longa, em forma de clava, entra em ação. É controlada por dois conjuntos de músculos. Um conjunto percorre o comprimento inteiro de minha língua e a mantém compactada em “pregas” sobre um osso pontiagudo na parte de trás da boca, bem parecido a uma mola enrolada sobre uma vara. Quando abro a boca, o segundo conjunto de músculos, que circundam minha língua, espreme o osso para fora. Ao descontrair os músculos longos, minha língua se atira a grande velocidade a uma distância de cerca de meu comprimento total. E, com tal manobra, saboreio outro delicioso petisco de inseto. Não é de admirar que muitos jardineiros tenham prazer em me ter por perto, especialmente visto que nós, camaleões, temos apetite voraz. As grandes espécies de camaleões chegam a incluir aves em sua dieta.
Aumento da Família
Algumas fêmeas de camaleões põem ovos em buracos no chão, tornando necessário descerem de seus nichos nas árvores ou arbustos para se fazer isto. Usualmente, põem cerca de 35 a 40 ovos, e levam cerca de três meses para chocar. Outras fêmeas de camaleões, porém, são o que os cientistas denominam de “ovovivíparas”. Em tais casos, a fêmea põe ovos numa árvore. Mas, ao serem postos, o camaleãozinho rompe a membrana e, desta forma, “nasce”. A membrana é pegajosa e adere aos raminhos da árvore, assim impedindo que o camaleãozinho caia enquanto está sendo incubado. O camaleãozinho imediatamente agarra um raminho e passa a exercer sua ocupação favorita — procurar comida.
Lendas a Meu Respeito
Muitas pessoas de cor da África do Sul têm medo de mim, embora eu seja bem inofensivo para o homem. Algumas das pessoas da zona rural ainda crêem na lenda de que, quando Deus criou o homem, Ele mandou o camaleão dizer-lhe que jamais morresse. No entanto, visto que o camaleão andou tão lentamente, um lagarto rápido o ultrapassou e chegou primeiro para dizer que o homem morresse. Por este motivo, tal gente me odeia, e tenta matar os camaleões. Os cristãos, porém, conseguem mostrar aos que crêem nessa lenda a verdadeira razão bíblica por que a humanidade envelhece e morre.
Bem, eis aí minha breve estória. Espero que agora me conheça um pouco melhor e que me aprecie. Como pode ver, não é preciso temer a mim — a este “homenzinho que muda de cor”.